quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ORAÇÃO AO ESPÍRITO SANTO



ORAÇÃO AO ESPÍRITO SANTO




Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis com a vossa luz e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o vosso Espírito, e tudo será criado. E renovareis a face da Terra. Livai-nos das ciladas do inimigo, dá-nos a tua paz, e evitaremos perigos e incertezas no caminho.

Esta imagem é da Festa do Divino nos Açores.

UM OLHAR SOBRE O DESVIO SOCIAL

UM OLHAR SOBRE O DESVIO SOCIAL

A partir da leitura de “OUTSIDERS”, reportei-me a outras leituras feitas, filmes e problemas vivenciados. A curiosidade sobre o assunto fez com que eu pesquisasse, encontrei na história do século XIX, o porque do rótulo de desviante, desvio social, diferenças e grupos sociais. Cheguei à conclusão que, além do Brasil, haviam outros países preocupados em desvendar estes problemas sociais tais como a criminalidade, prostituição, suicídios. Foram feitos estudos, levantamentos de dados até que chegaram a um consenso de que os crimes, a prostituição, o alcoolismo e outros comportamentos, já existiam há muito tempo.

Na ascensão da medicina social, a qual passou a estabelecer as práticas sociais tendo seus próprios conceitos, paulatinamente toda a forma de comportamento que não se enquadrassem nos padrões burgueses passaram a ser vistas como anomalias e desvios. Sendo assim, é possível afirmar que fenômenos considerados alarmantes e novos em fins do século XII não eram novos e nem alarmantes. Um desses fenômenos era o suicídio. As reflexões deste tema apontam que a sociedade moderna se baseava em relações impessoais, pressões econômicas antes desconhecidas, e uma mudança nos valores que ameaçavam a estabilidade dos indivíduos com a tentação de matarem a si mesmos. O suicídio foi inventado e passou a representar um problema que gerou diversas abordagens teóricas e práticas.

Já a prostituição e o crime, passaram a ser mais visíveis devido à urbanização e ao desenvolvimento das grandes cidades. Nos grandes centros urbanos era difícil ter um controle das atividades consideradas ilícitas; já nos vilarejos, a vida de cada um dos indivíduos era controlada pela coletividade.

Na década de 1820, na França, as estatísticas tinham um traço comum, passou a existir uma preocupação com tudo que fosse considerado desvio: suicídio, prostituição, alcoolismo, loucuras, crimes. Esta contagem gerou subdivisões e classificações, e as sociais transformaram determinados comportamentos e ações em alvo de contagem, classificação e controle. Fenômenos históricos e socialmente criados passaram a ser encarados de forma naturalizada, e cientistas viam no lugar de desempregado o vagabundo e o criminoso era encarado como um anormal nato ao invés de alguém que enveredara para o crime e não as circunstâncias sociais.

Dessa forma, todo desvio passou a ser considerado doença assim como o desviante passou a ser declarado um degenerado. O desvio era a consolidação de uma nova tecnologia de poder na sociedade. Foucault (1975) denominou-o de poder disciplinar um meio de intervenção e normalização social que foi responsável pela criação do desvio.

Foucault (2007) faz uma referencia também à sexualidade em seu livro “História da Sexualidade”, sendo ele um autor prolífico e tendo um pensar difícil, profundamente interessado nos aspectos micro-físicos e locais do poder e avesso à tentação de apresentar o Estado moderno como uma força unidirecional, unilateral e meramente repressora. Para ele, a repressão sexual, marca um complexo processo de transposição, para a esfera pública do discurso, de uma prática corpórea transposição, que atendia tanto ao Estado, por facilitar o controle do cidadão, e atendia ao individuo, por permitir que o próprio discurso sobre a sexualidade fosse sexualizado. A malta da sociedade longe de silenciar o debate sobre a sexualidade desloca – o ao mesmo tema “prazer” para o tema “norma”.

Um outro exemplo de leitura de Focault (1975) é a obra “Vigiar e Punir” que é uma denúncia do poder repressivo do Estado, ele retrata o Estado Moderno, como o qual deixou de exercer o poder de forma localizada e excessiva sobre o individuo para atuar através dele por meio de um amplo aparato no formato de escolas, igrejas, locais de trabalho e prisões, longe de despedaçar os corpos dos desobedientes, como se fazia antigamente tal aparato de individualização dirigida e observada. Tais referências servem de reflexão ao tema em análise.

No texto em análise, Becker refere-se ao termo outsiders para designar aquelas pessoas que são consideradas desviantes por outras, situando–se, por isso, fora do círculo dos membros normais do grupo. Este termo outsiders do ponto de vista da pessoa rotulada de desviante, também podem ser aquelas que fazem as regras de cuja violação ela foi considerada culpada.

Portanto, o ser humano emerge, no seu modo de ser, dentro de um conjunto de relações sociais, são as ações, reações, os modos de agir, as condutas, as censuras, as convivências sadias ou as ditas neuróticos, as relações de trabalho, o consumismo e até o modismo ditado pelos meios de comunicações, isto tudo constituem a prática, social e historicamente o ser humano vive em grupos. Eu diria que a sociedade em que vivemos esta separada por guetos, grupos rotulados como desviantes e outros grupos tidos como normais, e o desvio social está inserido no cenário relacional, uma vez que qualquer categoria seja ela de homossexuais, viciados, prostitutas e outros, eles não podem ser pensados isoladamente, mas apenas dentro de um sistema de oposições sociais, sendo assim desviantes e normais emergem como tipos que se afirmam contrastivamente, constituindo essencialmente, uma manifestação social. Sendo grupos organizados, eles sempre têm como argumentar a linha de pensamento seguida pelos seus componentes e com fundamentação, uma dita pelos homossexuais é a que “a homossexualidade é doença porque a heterossexualidade é norma social”. Becker diz que para estudar os comportamentos dos desviantes não bastam dados oficiais e estatísticas .

É necessário levar em consideração aqueles que impõem as normas ou formulam as acusações ao mostrar como tal indivíduo ou grupo vem a transgredir essa norma ou foi rotulado como desviante. Quem acusa quem é de quê? Esta é a questão que se deve impor ao pesquisador diante de um comportamento ou identidade socialmente proscritos. O desvio não é uma característica especifica de certas categorias de pessoas e o caráter desviante ou não de um ato depende de maneira segundo os outros reagem.

Um exemplo que Becker da é o de que os policiais não prendem todas as pessoas que cometem crimes. O desvio traduz uma fuga às normas fixadas pelos grupos sociais, mas para ser considerado como desviante é necessário também se tornar objeto de uma acusação. Na minha opinião o indivíduo que pratica uma atividade ilegal não significa nada em si, pois um roubo isolado não é o mesmo que altamente complexa atividade de roubar com freqüência. É necessário saber o que, de quem roubar e para quem vender de forma a tornar essa atividade conseqüente e lucrativa. Roubar é uma atividade que se aprende, em etapas.

Sendo assim, a pergunta sobre o que há de novo no desvio podemos responder a normalidade, pois esses termos relacionais surgiram a partir da consolidação da ordem social assentada numa tecnologia de poder que estabeleceu normas as naturalizou e fez com que todos os que não se enquadrassem nelas passaram a ser classificados como desviantes.

O desviante é rotulado pelo seu comportamento ao adotar uma conduta que não é compatível com os padrões da sociedade uma delas é ter o perfil de uma profissão que tenha as características que o identifique um exemplo um médico negro trabalhando no meio de um grupo de brancos foge as regras da sociedade dita normal, um homossexual como recepcionista que geralmente exercem a função de cabeleireiros.

Tudo isto faz com que eu lembre dos países culturalmente diferentes um do outro, pois recentemente assisti a um filme chamado “BORAT”, em que o protagonista do filme é um indivíduo do Cazaquistão que é enviado como repórter para filmar os Estados Unidos e vivenciar a cultura daquele país ele queria mostrar o que se fazia no Cazaquistão, mas sempre fazendo uma comparação entre um e outro, ele se sentia totalmente excluído dos grupos. O filme é uma sátira inteligente que mostra a política incorreta da sociedade americana. Por ele querer mostrar a cultura dele em outro país, o comportamento dele foi considerado fora dos padrões da sociedade na verdade um louco ou até mesmo um criminoso uma afronta as normas daquele país.
Refiro também Nietzsche (2008) no livro “As muitas vozes da solidão: de inimiga a amiga”, faz esta menção: “Para a nossa cultura, o homem sozinho, em contato consigo mesmo, é “mente vazia para a produção diabólica”, como dito pelo cristianismo; ou pode ser um potencial “perigoso” pois é terreno fértil para duvidar das “verdades” que os mecanismos de poder engendram: o saber, a economia, a cultura, o Estado, etc.
Nossa educação é toda baseada em sutis elementos que silenciam a singularidade. Somos educados para o gregário, para viver como iguais, gostar e fazer o que uma ampla maioria faz, reproduzir o já pensado, etc.; e mais do que isso, aquele que se destaca por alguma singularidade pode ser cogitado a sustentar uma condição de desviante, rebelde, anti-social, individualista (em sentido liberal) entre outros termos já bem compreendidos no itinerário da exclusão.
Este entretenimento como possível fonte de felicidade – não antes como uma forma de fuga desenfreada da solidão que é selada como a imagem do homem fracassado -, não cria e muito menos dá sentido à vida, não tem poder transformador e afasta o homem cada vez mais de si mesmo. O entretenimento da civilização moderna apenas condiciona homens e mulheres a seguirem ideologias, ordenha-os por supostos caminhos tidos como “corretos”.
O caminho da solidão de Nietzsche não é o caminho do homem que se isola dos seus semelhantes, é o caminho daquele que sabe que não há nenhuma essência no mundo que regula o “certo” e o “errado”, e portanto vai ao encontro consigo mesmo, ouvir o seu corpo, seus órgãos e seu intelecto, e descobrir uma vontade de potência que lhe possibilite uma relação mais legítima com a vida.
Entretanto, os diferentes incomodam os desviantes mais ainda. Eu fiquei apaixonada por este tema, ele fez com que eu refletisse um pouco mais sobre a sociedade, e ficam várias interrogações, Em que sociedade eu vivo? Em que contexto eu estou inserida na sociedade? Faço parte de que grupo? Agora eu olho o outro com mais atenção, respeito e principalmente os que estão no dito lugar de “DESVIANTE”. Lembro da minha amiga Salomé artista plástica que morou muitos anos no Cairo, e que quando voltou a cidade onde nasceu foi considerada louca pelo estilo de roupa que usava, ninguém conseguia entender o que ela falava por ter um grau de instrução superior, viveu em uma realidade diferente daqui e ao relatar suas experiências tudo ficava pior a vivência dela incomodava os amigos a sociedade logo tratou de exclui ela e no decorrer do tempo em que esteve aqui na cidade fechou – se em seu atelier a produzir sua arte que era toda comercializada nos Estados Unidos, muitas vezes fui tomar chá com ela e escutar fados da fadista Amalha Rodrigues, sentada cada uma em uma rede em sua sala, as paredes da casa dela por fora e por dentro eram pintadas por ela, a arte dela estava por toda a parte, no chão, teto e paredes, muitas pessoas não chegavam perto da casa de Salome pois ela era considerada louca pelo povo que diziam que o lugar dela era em uma casa para doentes mentais e assim foi a vida dela aqui na cidade fora daqui ela era considerada uma artista de renome.

Penso que não só os estudantes do Curso de Direito deveriam ter acesso aos livros de Howard S. Becker, mas sim todas as pessoas, mas não sei se entenderiam, pois passei este texto do Becker para várias pessoas de diversos níveis de escolaridade e de outros cursos e Universidades para lerem e darem uma opinião e nenhuma pessoa soube me falar do assunto; depois de lerem me perguntavam, por quê você estava fazendo leituras desse tipo, tão profundas e difíceis? E aí é que eu caí na realidade: já estão me rotulando, agora eu tenho que ver em que grupo eles vão me enquadrar na sociedade.



Agradecimentos:
Agradeço a professora Fernanda Osório do curso de “Direito” (DIREITO PENAL I ) pelo texto de Howard S. Becker “OUTSIDER”, considero ela uma professora arrojada que fez com que a partir desta leitura eu pesquisasse mais sobre o assunto, este é o perfil de uma professora atualizada com uma visão a frente de seu tempo, instiga o aluno a ir além das paredes de uma instituição educacional, que bom seria se pelo menos uma parte dos professores tivessem um pouquinho desta percepção de mundo.