segunda-feira, 29 de junho de 2009

FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, UMA COMPARAÇÃO ENTRE A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX E A CONTEMPORANEIDADE NA CIDADE DE OSÓRIO










OSÓRIO, 2006.




MARIA REGINA SANTOS DE OLIVEIRA










FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, UMA COMPARAÇÃO ENTRE A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX E A CONTEMPORANEIDADE NA CIDADE DE OSÓRIO





Monografia apresentada à Faculdade Cenecista de Osório como requisito parcial para aprovação no curso de Especialização em Diálogos entre Literatura e História do Rio Grande do Sul.





Orientadora: Terezinha Marques









OSÓRIO, 2006


























Dedicatória

Dedico este trabalho em memória ao meu pai, que foi minha fonte inspiradora durante toda esta caminhada.
































Agradecimentos

Agradeço a Deus pela graça de estar viva e ao Espírito Santo
Por iluminar os meus caminhos.










INTRODUÇÃO


Ao término do curso de História, interessei-me por cursar, em nível de pós-graduação, a especialização em Diálogos entre Literatura e História do Rio Grande do Sul, na Faculdade Cenecista de Osório. E como estudo desenvolvido no decorrer do curso, optei pela pesquisa e análise das Festas do Divino Espírito Santo, desde a segunda metade do século XIX até a contemporaneidade, mais precisamente no ano de 2005 em Osório, que resulta nesta monografia. Enfatizando a origem, os rituais, as práticas associadas aos festejos e os símbolos no que tange à permanência e à continuidade destes rituais ao longo dos anos, fazendo uma comparação do passado com o presente. Dentro deste contexto, apresento uma reflexão sobre a cultura sócio-religiosa popular.

O litoral norte do Rio Grande do Sul foi povoado por açorianos e junto com eles veio uma cultura popular. A Festa do Divino foi uma delas, pois sendo um povo muito religioso, fez com que as suas tradições se mantivessem por todos estes anos. Em Osório, os rituais foram modificados e adaptados à realidade local. Os aspectos sócios culturais religiosos acompanharam a evolução dos tempos sem modificar a sua essência.

Em 1492, com a descoberta da América, e em 1500 com a descoberta do Brasil, Espanha e Portugal começam uma disputa que levam a vários tratados que na maioria das vezes foram desrespeitados por ambas as Coroas. Uma das áreas em constante litígio situa-se entre Laguna e o Rio da Prata, resultante desta disputa


O Tratado de Alcacovas (1479) determinava que todas as ilhas com excecão das Canárias pertencessem a Portugal bem como as terras que se viessem a descobrir no Oceano Atlântico. Pelo Tratado de Tordesilhas (1494), as terras que ficassem a 370 léguas de Cabo Verde seriam de Portugal e as que ultrapassassem esse limite pertenceria à Espanha. (AMARAL; JACCOTTET, 2002, p. 212)



Com a morte em 1580 de D. Henrique, rei de Portugal, o Brasil, então colônia portuguesa, passa a ser governado por Felipe II, rei da Espanha, vencedor da disputa política pelo trono português. Dava– se início ao domínio espanhol sobre as colônias portuguesas, fato que ficou conhecido como União Ibérica. A Espanha construía um extenso império que ia das Américas à Ásia, passando pela Europa e pela África. Esse período durou sessenta anos, ou seja, até 1640. No Brasil, pouca coisa mudou: o idioma foi mantido e as leis e os costumes também. Trevisan assim relata o período citado:


Foi durante esta união, o chamado período Filipino (1580 – 1640) que teve grande incremento a expansão dos portugueses, com São Paulo como foco irradiador, por intermédio dos Bandeirantes, e o mapa do Brasil começou a ser definitivamente esboçado. (1993, p. 26-27)


Em 1680, já com a retomada do trono português, com base no uso jurídico “utis possidetis” (a posse pelo uso), o governo luso mandou construir em frente a Buenos Aires a Colônia do Sacramento, fato que acirrou os conflitos com os espanhóis. Com a criação da Colônia do Sacramento, efetivou–se o interesse de Portugal na região mais meridional do Brasil.

Após a construção da Colônia do Sacramento e as constantes incursões dos bandeirantes sobre o Sul estava decretado definitivamente o interesse político e econômico e a conseqüente expansão das fronteiras portuguesas no Sul do Brasil. Tratava–se de montar um projeto que pudesse dar conta de povoar e assegurar a posse dessas terras conquistadas.

Vera Barroso retrata essa intenção dizendo que:


“A partir dos anos 1700 o projeto de conquista portuguesa no Sul avançou, forjando as incursões de reconhecimento da área, inaugurando a era das invernadas e estâncias, com a Frota de João de Magalhães vinda de Laguna em 1725. Com ela preparava–se o povoamento com brancos no Rio Grande do Sul, vindos de outras capitanias estimulados pelo comércio muar que vinculou a região ao centro do Brasil. E a área palco dos primeiros ‘arranchamentos’ foi exatamente a do litoral norte, reunindo os Campos de Tramandaí e os de Viamão [...] (1993, p. 33)

Esta necessidade de proteção às fronteiras foi estabelecida as custas de muitos tratados, que faziam com que as fronteiras se redefinissem ora para o lado espanhol, ora para o lado português, isto levou o governo português a ter a preocupação de:


“[...] incentivar na fixação de uma população civil que se dedicaria em especial à pequena agricultura [...]” (TREVISAN, 1993, p.127).


Embora já houvesse vindo casais açorianos para povoar a Colônia do Sacramento (1718), a grande emigração deu–se em função de fatores relacionados às condições populacionais das ilhas açorianas e das necessidades econômicas e políticas de ocupação do Rio Grande do Sul. Barroso vai dizer:


[...] “a vinda dos açorianos para o Sul atendia a dois interesses bem claros e mediatos: aliviar ilhas super povoadas dos Açores, cuja a carência de alimentos e trabalho era uma realidade; e povoar o RS, carente de braços para a produção de alimentos e de defensores em propícia conjuntura do avanço da conquista portuguesa no extremo Sul do Brasil.” (1993, p. 36)


Cabe aqui mostrar quem era esse povo e quais eram as condições sócio – culturais nas ilhas no momento em que foram convocados para fazer a imigração rumo ao Brasil.

Portugal hoje está dividido em parte Continental e parte Insular. A parte Insular corresponde aos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Sabe-se que:


“O arquipélago dos Açores está situado no Atlântico Norte, sendo dividido em três grupos de olhas, em função de sua localização relativa: grupo Oriental, formado por Santa Maria e São Miguel; grupo central, pelas ilhas Terceira, São Jorge, Pico, Faial, e Graciosa; e o grupo Ocidental, formado por Flores e Corvo. O território abrange uma área de 2.333 km2, com uma zona econômica exclusiva de 938000km2” [...]. (ROCHA, 1993, p. 9)


Achei esta citação de Vera Barroso, no que diz respeito à vinda dos casais açorianos para o Rio Grande do Sul, pois pouco fala-se sobre a vinda destes ilhéus.

A imigração intensiva de ilhéus do Arquipélado dos Açores, via de regra, é associada às necessidades de ordem política e, quando trata-se de política de expansão territorial, sabe-se que tudo era prometido e pouco cumprido, mesmo as promessas documentadas. Embora tarde,após mais de vinte anos da chegada da primeira leva de casais açorianos, as promessas foram, pelo menos parcialmente, cumpridas. Os açorianos na estremadura meridional do Brasil deram por satisfeitos os objetivos que provocaram suas vindas.

A historiadora e pesquisadora patrulhense Vera Maciel Barroso diz que:


“[...] a História do povoamento da área do litoral norte, até a chegada dos casais açorianos no Rio Grande do Sul a partir de 1752 está vinculada estreitamente ao processo de conquista e de incorporação da região sulina, ao domínio português na América Meridional” (1993, p. 33).


Até o início do século XVII, diz a autora que, na costa litorânea entre o Sul de Laguna e imediações de Tramandaí, viviam os índios arachãs, da família guarani, e os carijós. Com a chegada dos primeiros homens brancos, esses foram capturados e aqueles que resistiram foram dizimados. Os portugueses vieram buscá–los para servirem como escravos em São Paulo ou serem vendidos para o nordeste, para a mesma finalidade. Para se efetivar o domínio luso da parte meridional do Brasil, até então despovoada por “homens brancos”, forjaram-se incursões de reconhecimento da região. Criavam–se assim os caminhos do litoral, área de melhor acesso às caravanas. João Magalhães inaugurou a era de invernadas e estâncias em 1725. A área litorânea foi palco dos primeiros ranchos fixados nos campos de Tramandaí e Viamão. Manoel Gonçalves Ribeiro foi o primeiro a receber título de propriedade, exatamente na Paragem das Conchas, onde hoje se localiza a cidade de Tramandaí. Em volta dessas áreas, outros proprietários foram requerendo terras, povoando assim a região.


De Laguna vieram portugueses, índios, negros que miscigenaram – se na região litorânea e avançaram rumo a Santo Antônio da Patrulha e Viamão. (BARROSO, 1993, p. 33).


A participação dos índios e dos africanos na formação étnica do litoral gaúcho e o povoamento da região a partir dos caminhos traçados pelos tropeiros, que avançavam rumo a serra com suas tropas de muares.

O primeiro núcleo de povoamento português no Rio Grande do Sul foi o presídio de Jesus, Maria e José, atual cidade de Rio Grande, erguido em 1737. Barroso relata a presença açoriana no litoral norte com a chegada em 1734 de Manoel Barros Pereira, açoriano da ilha de Santa Maria, que se instalou na localidade de Passinhos, ao Sul da Lagoa dos Barros. Santo Antônio da Patrulha e Conceição do Arroio, atual Osório, também vão constituir importantes núcleos de povoamento açoriano.

Em 1773, ainda segundo Barroso, o governador José Marcelino de Figueiredo projetou a instalação de açorianos em Conceição do Arroio. O engenheiro Alexandre Jose Montanha foi designado para demarcar as áreas de terras que ficavam na fazenda de Francisco Pereira.


Os açorianos cultivavam cana–de–açúcar, mandioca e trigo, faziam aguardente e criavam gado, tanto bovino como eqüino. Nessa época os tropeiros já usavam as rotas missioneiras para transportar suas tropas em direção a São Paulo e Minas Gerais. A ocupação das terras litorâneas ainda era bem acanhada: para uma população de 36.721 pessoas no RS, apenas 4.085 pessoas ocupavam essa área, que incluía, Nossa Senhora da Conceição do Arroio, Santo Antônio da Patrulha e Nossa Senhora da Oliveira de Cima da Serra. (BARROSO, 1993, p. 38).

É fácil recordar e falar do ontem próximo e do hoje envolvente. Ilhas e famílias iluminadas que na política, educação, religião e cultura se fazem presente nos dias de hoje. Nestas citações de Vera Barroso fica bem clara a importância da vinda destes ilhéus açorianos, cuja presença ficou incorporada à consciência social do gaúcho como expressão de organização da sociedade. Como fase na unidade familiar decorrente de dominância estatística, eles foram mais que o dobro da população existente, incorporados em uma comunidade avaliada como sendo de menos de mil indivíduos, naquele momento de sua chegada. Economicamente, desencadearam estes povoadores atividades desenvolvimentistas, nas lavouras canavieiras e em engenhos para produção açucareira, revelando-se excelentes agricultores e criadores de gados, como também a de colonizadores, característica consolidada pelo elemento luso em todo o mundo.


Foi só nas décadas de 1810 e 1820 que a procura pelas terras do litoral norte se intensificou, com legitimações sendo pedidas para os comandantes das freguesias e para a já instalada Câmara de Santo Antonio da Patrulha (criada em 1809 e instalada em 1811). Posterior a 1823, diz Barroso, foram confirmadas quase 100 concessões de sesmarias, sendo 49 na Freguesia de Santo Antonio da Patrulha e 44 na Freguesia de N.SRA. da Conceição do Arroio. (BARROSO, 1993, p. 43)


Foi difícil a trajetória deste povo, que além da longa viagem, enfrentou doenças, moléstias e até a morte para chegar em terras desconhecidas e recomeçar sem ter o mínimo de condições, acordos políticos foram feitos sem pensar que nestas embarcações vinham pessoas e não animais para semear uma geração de açorianos dispostos a trabalhar, e com eles veio toda uma cultura, as suas tradições foram cultivadas através da religião, festas, danças, culinária, arquitetura e superstições. Neste contexto histórico, a Festa do Divino é uma cultura sócio-religiosa que veio junto com este povo e permanece até hoje na memória do povo osoriense.




A Festa do Divino é prática antiga que perpassa as várias transformações históricas que sofreram a comunidade e toda a região litorânea. A aceitação e a prática da tradição se fez sentir até mesmo em culturas diferentes da cultura açoriana.

Mesmo tendo suas origens em outro continente, a Festa do Divino suportou a transmigração e o contato com outros povos de práticas e costumes diferentes, demarcou o seu território e enraizou–se.

Osório foi praticamente povoado por açorianos, mas outras etnias fazem parte da nossa cultura, são elas: africanas, italianas, indígenas e outras, com elas vieram todo um legado cultural. As danças, a culinária, e a religiosidade expressa na Festa do Divino. Essa herança açoriana está registrada na obra “A Vila da Serra (Conceição do Arroio)”, em que Stenzel usa a narrativa literária para descrever a participação e comportamento do povo osoriense nas Festas do Divino Espírito Santo:


À educação cívica se antepunha a religiosa. Afinal, foi isso o que herdamos dos portugueses Realizavam –se aqui, anualmente, três festas regulares: A do Espírito Santo, a da Conceição e a do Rosário. Não havia como hoje, igrejas nos distritos, de maneira que, principalmente a festa do Espírito Santo, afluía à Vila muita gente de fora. A concorrência era tanta que, às vezes, em uma só casa se hospedavam três ou quatro famílias, afora os rapazes e os fâmulos, que dormiam nas carretas. (1872, p. 36)


Percorrendo o caminho histórico da constituição e formação açoriana da região litorânea norte, Vera Barroso, historiadora natural de Santo Antônio da Patrulha, relata que:


“Está mais do que provada a açorianidade norte-litorânea do Rio Grande do Sul. Os açorianos antes e após 1752 chegaram às terras das antigas freguesias de Santo Antonio da Guarda Velha e N.Sra da Conceição Do Arroio” [...] (1993, p. 47).


Este estudo, fruto de reflexões feitas ao longo dos anos, analisa a trajetória histórica e cultural das Festas do Divino Espírito Santo, herança luso–açoriana presente na região litorânea e na cidade de Osório. A presença dos açorianos na região foi verificada por meio da literatura osoriense na obra de Antônio Stenzel Filho “A Vila da Serra (Conceição do Arroio)”, visto que não foram encontradas obras científicas sobre a Festa do Divino. A pesquisa em relação à historiografia preenche lacunas da produção científica sobre o tema. Através de entrevistas com a Sra. Agata Buss, o Sr. Marco Antônio, o Sr.Ildo Trespach Monteiro, o Sr.Roque José Malmam e a Sra.Karla Oliveira, membros da comunidade local, líderes sociais, foram coletadas muitas informações analisadas.

Este estudo procura responder à seguinte problemática: quais as transformações que podem ser percebidas na Cultura das Festas do Divino Espírito Santo no município de Osório, desde suas origens até a contemporaneidade?

Para tanto defendo a hipótese de que a Festa do Divino, tradição relacionada às manifestações populares que até hoje se desenvolve no município sofreu aculturações. Sabe–se que nas transformações, religiosas, sociais e culturais que ocorreram na região ao longo dos anos, estão presentes as influências de origem evolutivas e étnicas. Contudo, a cultura da Festa do Divino manteve–se na comunidade de Osório, resistindo através dos festeiros e dos grupos de apoio da sociedade em geral.

O método utilizado nesse trabalho é o comparativo, por considerar que o estudo das semelhanças entre diversos tipos de grupos da sociedade ou povos contribui para uma melhor compreensão do comportamento humano. É um método que possibilita ao investigador exercer uma investigação de forma descritiva conforme os objetivos propostos. Além desse aspecto, esse método de pesquisa foi escolhido pois há vários autores que já escreveram sobre este assunto no século XIX, mas na contemporaneidade não existe registro sobre as Festas no município de Osório. O método de registro oral das entrevistas com os devotos do Divino, que fazem parte das Festas, foi selecionado para que futuramente sirva de fonte de pesquisa por outros pesquisadores, qualificando a forma de registro da memória dos membros da comunidade com relação à nossa cultura sócio-religiosa local. A técnica documental adotará os seguintes procedimentos: leitura e análise das obras; entrevistas obedecendo a roteiro previamente elaborado, de acordo com objetivos observados com vistas à delimitação fixada acima. Os objetivos específicos deste estudo com relação à Festa do Divino se constituem em: identificar as manifestações desta cultura durante o desenvolvimento do município; analisar as práticas, os rituais e as simbologias, rituais, perfil dos foliões e o papel da igreja; traçar paralelos entre a manifestação inicial e a prática atual; identificar e analisar os fatores que contribuíram para as transformações e permanências, somadas à prática religiosa e cultural dos dias de hoje; reunir depoimentos, documentos fotos, que possam ser utilizados para caracterizar a cultura das Festas do Divino e avaliar o atual estágio da mesma no município de Osório.

Em uma perspectiva mais ampla, este trabalho tem o objetivo de despertar na comunidade local e regional a importância de dar continuidade a tradição das Festas do Divino Espírito Santo por ser uma herança portuguesa, açoriana com certeza.

Trabalhei com os conceitos das Festas do Divino, enfocando as manifestações e transformações iniciais e atuais na contemporaneidade, salientando que os mesmos serão definidos no desenrolar do trabalho.

A idéia de resgatar a tradição das Festas do Divino na comunidade osoriense nasceu da curiosidade de saber como eram as festas em meu município e como, ao longo dos anos, vêm se mantendo em meio às várias transformações sociais, religiosas e culturais que historicamente acompanham a evolução da sociedade de um modo geral, fato também comum na região do litoral norte do Rio Grande do Sul, mais precisamente no município de Osório. Depois de dois séculos e meio da chegada dos açorianos ao Rio Grande do Sul, mais precisamente no município de Osório, atualmente com uma população de aproximadamente quarenta mil habitantes, a economia local é baseada no comércio e na prestação de serviços, indstrias e fábricas são poucas. Poucos são os investimentos em cultura de preservação do patrimônio histórico; sem profissionais qualificados para este trabalho, mesmo tendo uma faculdade que mantêm um curso de História. A tendência é que haja uma mudança, pois está sendo implantado na região o maior Parque Eólico da América Latina. Tudo indica que Osório se torne um município turístico. Assim, cria-se a necessidade do resgate e preservação das raízes açorianas.

Minha pesquisa aproxima-se de uma linha teórica que foi denominada pelos historiadores como Nova História Cultural, onde as análises levam em conta não só as fontes documentais, ou as matrizes econômicas e políticas, que por vezes poderão aparecer nesse trabalho, mas também, o cotidiano das comunidades, o imaginário, as tradições, os ritos de passagens que estão inseridos nesta realidade e que podem determinar a permanência ou a extinção de uma herança sócio-religiosa cultural no município de Osório.

Segundo Barthes (1978): “a linguagem é o objeto em que se inscreve o poder”. Todo discurso, desde os proferidos pela escola ou pelo Estado, até os que constituem a publicidade ou mesmo uma canção, se encarrega de repetir a linguagem até o momento em que os sentidos das palavras nos pareçam naturais e inatos, como se a linguagem existisse antes mesmo do surgimento da sociedade e de suas construções de poder. A palavra repetida, fora de qualquer encantamento ou magia, é denominada de estereótipo. Aceitamos determinadas idéias como verdades puras, entretanto, na maioria das vezes, são estereótipos formados de um discurso constituído sob a máscara do poder.
O estereótipo é, pois, a cristalização de um único sentido da palavra, o cerceamento da multiplicidade do signo imposto por um único sentido da palavra, o cerceamento da multiplicidade do signo imposto por uma determinada ideologia. O poder, segundo o semiólogo francês, está presente em todas as circunstâncias do intercâmbio social, não somente nos Estados, nas classes, nos grupos, mas ainda nas modas, nas opiniões correntes, nos espetáculos, nos jogos, nas informações, nas relações familiares e privadas, e até mesmo nos impulsos liberadores que tentam contestá–los. Primeiro faz–se uma revolução para acabar com um mecanismo de poder, ele logo reaparece, sob uma máscara nova, mas com os mesmos princípios autoritários e opressores; a liberdade humana só é possível fora da linguagem.

No entanto, o homem só existe dentro dela, em seu interior, uma vez que é constituído por ela, não havendo separação entre homem e linguagem. Estaremos, então, condenados à prisão perpétua, implicados nesta rede de poderes que constitui os discursos. É aqui que entra a sábia e saborosa idéia barthesiana de trapacear com a língua, não podemos destituí–la de seus sentidos estereotipados, mas é possível jogar com os signos. (BARTHES, 1978, p.11) Encontramos, na literatura contemporânea, uma certa tendência ao questionamento do que é o escrever no interior do próprio texto literário.

Outro texto que fez com que favorece uma aproximação entre Literatura e História é o de Robert Darnton (1986). Diz ele que a literatura tem um poder que nenhum outro texto tem que é o de conter outros textos, que é o de ser espaço de transformação dos discursos em circulação na sociedade. A literatura, através de sua linguagem simbólica e imagética diz o que não pode ser dito.

Talvez seja por isso que o historiador Robert Darnton escolheu reproduzir, através da literatura e de uma forma bem criativa e inusitada, a história cultural francesa do século XVII. Segundo o autor, os contos infantis, os quais utilizou na sua pesquisa, trazem a interpretação da cultura popular sobre a sociedade francesa daquele período. Mesmo tendo noção do quanto estava se afastando dos métodos estabelecidos pela história, acredita que seu trabalho possa contribuir para indagações proveitosas tanto na historiografia, como na literatura. Uma vez que, tanto a história como a literatura são patrimônios culturais e guardam a memória coletiva de um povo, ambas têm relevância social.


Pode–se indagar se a literatura contém mais ficção do que a história e os seus discursos durante os séculos; uma vez que o mundo não pode ser fictício em si mesmo. Entre a realidade e a ficção a diferença está em nós que convivemos e transmitamos por diferentes esferas de verdade. Somos nós quem criamos a verdade. Longe de se opor a verdade, a ficção, é seu complemento. Inventando possibilidades, o ficcional nos permite o acesso ao inacessível. Na medida em que o discurso historiográfico tem no passado o seu inacessível, ele necessita da ficcionalização para se constituir. (DARNTON,1986. p .6-7)


O trabalho está dividido em dois capítulos. No primeiro capítulo, trabalhei inicialmente com algumas interpretações sobre cultura e enfatizar os rituais e práticas associadas aos Festejos das Festas do Divino a partir da segunda metade do século XIX até a contemporânea no ano de 2005 em Osório, dentro destes rituais será feita uma abordagem sobre o papel dos foliões nas Festas do Divino junto a igreja católica local. No final, fiz relato historiográfico, para mostrar a presença étnica açoriana na região litorânea na cidade de Osório mais especificamente, iniciada, de forma mais intensa na década de 1750, procurando destacar a influência da cultura das Festas do Divino Espírito Santo junto ao imaginário do povo osoriense desde os primórdios de sua constituição como município.

O segundo capítulo constitui-se unicamente na abordagem dos símbolos referentes aos rituais praticados nas Festas do Divino, pois a simbologia tem um significado importante nos rituais desde o levantamento do mastro até o final da festa. Na sua contemporalidade, o que no ano de 2005 ainda é mantido da simbologia e ritual do século XIX. Neste capítulo tracei o caminho investigativo sobre as possíveis aculturações e permanências ocorridas na cultura das Festas do Divino contemporaneamente, trazendo dados atuais que vislumbrem tais transformações ou permanências.

A pesquisa em relação à historiografia preenche lacunas da produção científica sobre o tema, porque na sua contemporaneidade não existem registros em relação à comparação das práticas festivas antigas com as atuais.

O litoral norte do Rio Grande do Sul foi povoado por açorianos e junto com eles veio toda uma cultura popular, a Festa do Divino foi uma delas pois sendo um povo muito religioso fez com que suas tradições se mantivessem por todos estes anos, em Osório os rituais foram modificando e adaptando-se à realidade local. Os aspectos sócios culturais religiosos acompanharam a evolução dos tempos sem modificar a essência dos ritos.










1 OS RITUAIS E PRÁTICAS ASSOCIADOS AOS FESTEJOS DAS FESTAS DO DIVINO EM OSÓRI
Na cidade de Osório, realizavam-se anualmente três festas regulares: a do Espírito Santo, a da Conceição e a do Rosário, festas religiosas que identificam a cultura açoriana.

Antigamente não havia, como hoje, igrejas nos distritos, de maneira que, principalmente na ocasião da festa do Espírito Santo, afluía à Vila muita gente de fora. A concorrência era tanta que, às vezes, em uma só casa se hospedavam três ou quatro famílias, afora os rapazes e os fâmulos, que dormiam nas carretas.

A festa iniciava pelo levantamento do mastro que era feito na frente do império do Divino, que localizava-se ao lado da igreja. O império servia para guardar os instrumentos da folia do Divino: as bandeiras, coroas e os objetos para a procissão do Divino Espírito Santo. Seguram-se as novenas, durante as quais a voz de barítono do velho Silva, no coro, ecoava por toda a vila e a música do Zeferino Antônio de Oliveira (Zeferinho), à entrada e no final do ato religioso, executava belíssimas dobradas. Do sexto dia em diante, efetuavam-se, à noite, depois das novenas, leilões de ofertas, tais como bolos, pães, animais e diversos objetos antigos e novos, também feitos no Império. Por ser muito pequeno, o Império ficava cheio como uma lata de sardinhas.

O leiloeiro era o velho Amaro, sendo em certas ocasiões coadjuvado pelo Gaudêncio que, espirituoso como era, dirigia graçobas aos rapazes que estavam de namoro. No meio das risadas, cochicho das velhas e curiosidade das moças, sobressaía a voz rouquenha do velho Amaro, dizendo: “dou-lhe uma, dou-lhe duas, e ... dou-lhe três”. Todos os olhares se dirigiam então para o leiloeiro, a fim de verem para quem seria dado o objeto arrematado. Ao ser entregue este a uma das moças presentes, repetiam-se os cochichos e risadinhas. Às vezes, porém, o objeto arrematado era um boneco de massa com olhos de feijão ou uma caixinha de segredos, e neste caso,era oferecido por um rapaz a outro rapaz, o que provocava gostosas gargalhadas.

Na véspera do dia, saíam do Divino as bandeiras acompanhadas da música e ao espocar de foguetes, a tirar esmolas no quadro da povoação. Atrás do préstito, seguiam duas carroças, enfeitadas de folhagens e flores, distribuindo carne e pão à população. O distribuidor era ainda o velho Amaro, que vestia uma opa encarnada e tinha a cabeça coberta por um grande lenço de chita. Este velho Amaro era muito bravo e rezingueiro com as crianças, razão por que essas tinham muita raiva dele. Com os homens, principalmente com os ricos, porém, era muito atencioso e dedicado. Naquele tempo, já se sabia pegar no bico ...

A carne e o pão distribuídos eram provenientes das esmolas dadas ao Divino. Este uso está hoje abolido. As reses são vendidas em leilão e o produto aplicado às despesas da festa. Foi mal feito isso, o uso deveria ser mantido, pois aquilo era uma característica da tradicional solenidade. Essas dádivas: pão, carne, galinhas, etc. significavam as esmolas dispensadas aos pobres, na época em que a festa do Divino foi instituída, aí pela Idade Média, mais ou menos, segundo a opinião do padre Teschauer.

No dia da festa, às 10 horas, procedia-se ao sorteio para o novo festeiro e às 11 horas principiava a Missa Solene. A igreja, repleta, resplandecia. Os altares cobriam-se de flores. À direita do altar-mor, em um trono, sob um dossel forrado de seda encarnada, com franjas douradas, ostentava-se o Imperador, com sua coroa de prata na cabeça e o cetro na mão esquerda.

À tarde, pelas seis horas, saía a procissão. Era muito concorrida, formando um cortejo imenso. Ao contrário do que acontece hoje, nos tempos passados as senhoras não a acompanhavam.

O festeiro, ainda com a coroa na cabeça, recebida do imperador, ia dentro de um quadro, sendo este conduzido por quatro meninas vestidas à fantasia. Depois do último andor, ia o pálio, de seda branca com varões dourados, pegando neles as figuras de mais destaque na Vila. Embaixo dele, o padre, com o SS. Sacramento em exposição. As janelas das casas eram ornamentadas com colchas finas e vistosas. Quando o pálio passava em frente a uma casa, as portas e janelas se abriam e as pessoas se ajoelhavam e curvavam a cabeça em sinal de adoração.

Durante todo o tempo em que a procissão percorria a Vila, o sino repicava e a música tocava marchas festivas. Uma coisa que impressionava muito nesse ato religioso eram as promessas. Senhoras de pés no chão, crianças nuas debaixo dos andores. Em certa ocasião, o Zeferino Miguel, que era um homem de posição social e política, acompanhou a procissão atrás de um andor, descalço, sem camisa, e com um barril cheio de água à cabeça.

À noite, depois do leilão, queimavam-se os fogos de artifício, saindo no fim o boi-de-fogo, que era o espantalho das crianças e até muitos jecas. O dia seguinte era destinado às cavalhadas. Na época, as cavalhadas tinham, aqui, um brilho excepcional. Quase todos os corredores eram homens de posição social, de maneira que se apresentavam ricamente vestidos e os seus cavalos bonitos e bem ajaezados. Para citar alguns: os fazendeiros Galdino, Amador e Manoel Marques de Oliveira. Centenas de cadeiras e bancos estendiam-se ao redor da praça.

Os estudos das manifestações culturais, principalmente as festas populares têm dia a dia assimilado os novos paradigmas e correntes teóricas advindas das ciências sociais. Então, teses como a da incondicional autoria coletiva e a irrefutabilidade a modas e tendências da cultura de massa, por exemplo, requisitos básicos para qualificar um fato folclórico no passado, têm se demonstrado inadequados para qualificar a dinâmica de manifestações populares nos dias atuais, onde em tempos de modernidade, ou pós-modernidade para outros, as transformações e reorganizações das tradições são constantes.

As Festas do Espírito Santo, na tradição secular dos Açores, de acordo com Marcelino Lima, na obra Anais do Município da Horta, que se baseia em crônicas antigas. Existiam, também, na Alemanha associações de beneficência sob a invocação do Espírito Santo, destinadas a socorrer os indigentes em ocasiões de penúria. Na França, no ano de 1160, fundou-se a Ordem do Espírito Santo, que se dedicava ao exercício da caridade para com os pobres e doentes. Em Portugal, a instituição teria sido introduzida pela rainha Isabel de Aragão, preocupada com a extrema pobreza das classes mais desfavorecidas, sendo em Alencar, no ano de 1296, que se realizou, com grande pompa e pela primeira vez uma cerimônia em honra do Espírito Santo.

Quanto à sua difusão pelo resto do país, segundo Mota:


Tem-se como o mais provável que este ato (o de Alenquer), simples e humilde, caritativo e belo, mas, sobretudo de uma grande devoção ao Divino Paracleto, se difundiria rapidamente pelas casas opulentas, os solares dos nobres e pelos homens ricos, que logo quiseram imitar as práticas vividas na Capela Real de Alenquer. Crível. Por isso que, depois de conseguida a devida autorização do soberano, se mandava executar coroas em tudo semelhantes à do Rei, exceto no centro, onde um símbolo do Espírito Santo as distinguia da Coroa Real. Passou o país cristão que era Portugal, a assistir, pelo Pentecostes dos séculos XIII e XIV a tão piedoso e caritativo cerimonial, levada a efeito, principalmente nas casas nobres e ricas dos portentosos do Reino, só mais tarde aparecendo o povo reunido em Irmandades, como forma associativa de poder realizar, também, por si, as faustosas festas do Espírito Santo, terminando-as à maneira da nobreza com touradas e jogos de canas e argolinhas (1982).


Foi essa pia instituição que os senhores capitães-donatários, devotos e crentes da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, os nobres, os navegantes e o povo agrícola e artífice, que os acompanharam a aventura dos Açores e trouxeram como costume familiar e o puseram em prática nas diferentes ilhas onde se fixaram.

É, pois, ponto assente que o culto foi introduzido nos Açores pelos primeiros povoadores continentais, em meados do século XV, havendo, no entanto, divergências quanto à ilha onde cronologicamente ele teria tido início: uns são da opinião que em Santa Maria, primeira a ser descoberta e povoada.

Contudo, Gervásio Lima, em As Festas do Espírito Santo, declara que “(...) tudo leva a crer que elas tiveram principio nesta ilha (Terceira), iniciadas com a entrada dos primeiros colonos”.

Independentemente do local onde foram celebradas pela primeira vez no Arquipélago e apesar de terem sido no início apadrinhadas pelos nobres ricos, as festas, atualmente, são parte integrante das tradições populares açorianas. Através dos tempos, o povo, com toda a sua imaginação e aversão a regras e protocolos, foi lhes introduzindo alterações. Existem hoje em dia, nos seus trâmites, diferenças de ilha para ilha e até, dentro da mesma ilha, de freguesia para freguesia, nomeadamente no que diz respeito às funções e trajes dos diversos personagens e às ementas da função, isto para não falar nos termos que designam cada um dos participantes e cujas variantes são quase tantas quantas as ilhas do Arquipélago. Há, entre os personagens tradicionais das cerimônias das festas do Espírito Santo, uma, ou melhor, “umas”, que apesar de se limitarem, hoje em dia, quase que exclusivamente ao canto e estarem em alguns locais em vias de extinção. Merecem, talvez por isso mesmo, mas também pelo seu caráter profano e de crítica social, uma referência especial, já referido no boletim paroquial Despertar, 1982.


1.1 Foliões do Divino Espírito Santo nos Açores


As Folias do Divino Espírito Santo, praticamente desaparecidas no Continente, mas que ainda agora se conservam no Arquipélago dos Açores, são uma das mais sugestivas e saborosas expressões do folclore insular.

A origem remota dos foliões do Espírito Santo é declaradamente pagã, embora depois, no decurso dos tempos, designadamente em Portugal, até os meados do século XVIII, eles figurassem em cortejos e festejos religiosos da maior solenidade, como as procissões de Corpus Christi.

Na antiga Grécia, as Bufónias eram festas propiciatórias cujo fim consistia em acabar com a fome em certas regiões. Para isso, abatiam um ou mais animais sagrados, recebendo em seguida os assistentes um pedaço de carne, tal como hoje acontece, em parte, na chamada distribuição das pensões, por ocasião das Festas do Espírito Santo, nos Açores.

Ora os sacerdotes que tomaram parte nesse ritual da Dipolia eram os matadores de bois, os bufonos, expressão que deu depois a etimologia de bufões, palavra que mais tarde viria a significar jograis, bobos, foliões. Por esse motivo, embora hoje a palavra foliões signifique homens que se divertem com freqüência sem comedimento, não é difícil identificar os foliões do Divino Espírito Santo, dos Açores, com bufões das antigas Bufónias.

Atualmente, no arquipélago açoriano, os foliões aparecem na grande maioria das festividades do Espírito Santo. O número de foliões que compõem uma folia varia de ilha para ilha e até de localidade para localidade. Regula, porém, entre três e seis. Todos eles se apresentam, no geral, com indumentária própria, sendo a mais freqüente e característica, uma opa de chita enramada (de vermelho) e uma mitra, do mesmo tecido, na cabeça. Esta última peça, no entanto, apresenta variantes em algumas ilhas. Em Santa Maria, por exemplo, usam apenas um lenço por sobre os ombros. No Faial amarram um lenço vermelho na cabeça, caindo as pontas pelas costas. Na Terceira, em meados do século passado os foliões traziam chapéus de castor alvadio, parecidos com os dos franciscanos capuchos.

A opa de tecido de ramagens, bem como a mitra, do mesmo pano, ainda hoje usadas pelos foliões da ilha de São Miguel, são peças de vestuário de caráter oriental. A mitra, sobretudo, segundo alguns escritores, é nitidamente persa e constitui um emblema do sacerdócio, ainda usado pelos sacerdos magnos, como o bispo da Igreja Católica.

Desse caráter pagão dos foliões do Espírito Santo, nos Açores, e ainda de certos abusos por eles praticados no decorrer dos tempos, teriam certamente provindo as restrições determinadas pela Igreja, no próprio Arquipélago, com o fim de evitarem a sua presença em certos atos religiosos, dentro ou fora dos templos.

As variantes notadas quanto à indumentária dos foliões verificam-se também quanto aos instrumentos. Assim, por exemplo, na ilha de São Miguel, designadamente nas regiões central e ocidental (Arrifes, Feteiras, Mosteiros, Bretanha, etc.), trazem rabeca, viola de arame e sistros.

Noutras localidades da mesma ilha também usam tambor (em vez da rabeca) e, em alguns casos, ferrinhos. Nas ilhas de Santa Maria, Flores e Corvo, usam testos, uma espécie de pequenos pratos metálicos, cada folia costuma fazer uma bandeira do Espírito Santo, encima por uma “pombinha”, e é, geralmente, um dos que trazem pandeiro que “puxa” a cantiga que os restantes repetem, de dois em dois versos, num tom arrastado que varia ligeiramente de lugar para lugar.

As folias que ainda hoje figuram em quase todos os atos dos festejos do Espírito Santo que se realizam nos Açores (alvoradas, mudanças, cortejos dos bezerros, império, etc.) eram, antigamente, número obrigado em todas as festas religiosas e profanas. Por isso, a história dos Açores apresenta-se cheia de referências a folias, a ponto de as Câmaras Municipais terem chegado a providencia sobre a sua composição e a sua comparência.

Além da indumentária pitoresca com que se apresentam, as folias do Divino Espírito Santo oferecem um interesse deveras extraordinário, no que toca à originalidade e à espontaneidade das cantigas, sabido que todas estas são improvisadas no preciso momento em que as cantam. Se alguns milhares dessas quadras têm sido registrados pelos folcloristas açorianos, muitos outros milhares se perderam para sempre precisamente porque foram improvisadas, umas e outras admiráveis pelo conceito, pelo sentido apologético, pela devoção religiosa e até pelo tom jocoso e de crítica social em que se expressam.


1.2 O Divino Império do Espírito Santo


As Festividades Populares do Espírito Santo no Continente e ilhas adjacentes - Relação do Paracleto com os São Joões - O significado esotérico das Festividades - Exportação do Império Popular de Portugal para o Mundo - A religião imperante subjugada à Tradição Iniciática.

É agora o momento de falar dos Festejos Populares do Império do Divino Espírito Santo, há não muito tempo realizados com toda a pompa e circunstância no lugar do Penedo, em Sintra, os quais são tão velhos quanto à Monarquia Portuguesa. Já na época dos primeiros soberanos eram realizados no sítio de São Sebastião da Pedreira (onde tinha início a Estrada Real de Sintra), em Lisboa, tendo sido depois oficializados pela Rainha Santa Isabel em Alenquer, com o apoio dos Franciscanos. Em Quatrocentos, eles tiveram especial relevo em Lisboa e arredores. Na capital existia a poderosa Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios e Hospital do Divino Espírito Santo dos Pescadores e Navegantes, em Alfama,, cuja fundação ocorrera precisamente na época de Quatrocentos. De uma outra agremiação de homens do mar - a Irmandade dos Mareantes e Pescadores do Alto da Confraria do Espírito Santo – instalada na igreja de São Miguel de Alfama, ficou igualmente notícia.

Ambas as Confrarias, festejantes dos Impérios Populares como forma de reviver as antigas tradições Célticas, exaltar o Misticismo Nacional e quebrar por alguns dias a opressão dogmática do Clero vigente e dominador, foram notícia de alvará Seiscentista de reformulação de compromisso, para bom governo dela por estar o uelho em alguas couzas mui demenuto.

O Tribunal do Santo Ofício tremia diante dos Festejos do Império que são a mais pura manifestação da vontade da Alma do Povo requerindo e mesmo exigindo o retorno às origens ancestrais dos deuses “pagãos” ou do “campo” (e é no campo que inicia toda forma de civilização comportando a correspondente cultura e panteão de deuses “paisans”, ou seja, do mesmo “campo” em que se alicerça, em todos os quadrantes de manifestação, a Religião Popular, genuinamente campesina), que Roma quis pelo terror repressivo apagar do Inconsciente Coletivo deste mesmo Povo, todavia nunca recuando perante as ameaças mais sérias!...
Eis a resposta da guardiã das alfaias do Espírito Santo, no Penedo, quando perguntada sobre o que fariam se o padre da paróquia se recusasse ir aí celebrar a Missa de Pentecostes ou da Páscoa Rosada auge litúrgico das Festividades do Império. A resposta foi peremptória: “Nesse caso iríamos buscá-lo, e se não viesse a bem, viria a mal...”

Contudo, não foi o padre mas a “padrelhada” moralmente efeminada dos novos moradores do sítio, tipo “gente bem” da cidade a quem tudo incomoda, exceto a sua ignorância em distinguir um bife no prato da matança ritual do touro, que obrigaram a Liga Protetora dos Animais a proibir a “hedionda” prática milenar de matar um animal (como se na Liga só houvesse vegetarianos...), desferindo assim uma estocada mortal no Festejo do Império no Penedo. Voto que os responsáveis por essa decisão desacertada reconsiderem seriamente e recuem na sua determinação que acredito nobre, mas, face à Tradição Iniciática e Popular, completamente injusta e ignorante das causas motivadoras desta mesma Festividade. À L. P. A., que me merece a maior das considerações, remeto este estudo.

D. Manuel I, o Rei Venturoso, aprovou os festejos populares do Pentecostes e autorizou as gentes de Cascais e Sintra a recolher madeira nas suas matas para as fogueiras do Bodo, segundo revelou em 1895 Pedro de Azevedo através da publicação de uma carta da Chancelaria de D. Manuel, a qual, embora não referindo expressamente a instituição de Império em Sintra, contudo indica a existência da Festa de Pentecostes, com a conseqüente solenidade do Bodo.

No reinado de D. Sebastião os festejos vão ao extremo do mais febril misticismo: implora-se a S. João; roga-se a S. Sebastião, clama-se ao Anjo Custódio, S. Miguel. O jovem monarca começa a ser identificado pela “arraia miúda”, cansada de Roma e dos seus capatazes que a exploravam e tiranizavam em todos os sentidos, ao Messias Nacional. A fantasia mistura-se com a realidade. D. Sebastião participa dos festejos do Império, continua a consentir que se realizem em Sintra, no Palácio Real da Vila, propriamente no Paço dos Infantes, autorização concedida anteriormente por D. Manuel I.

A Tradição salta à rua, ufana e inridora, alegre e grave. Os reis, até à Dinastia de Avis, são tidos de Casta Divina conforme as palavras de Cristo a Afonso Henriques, e a Igreja Romana; a besta escarlate assinalada no Apocalipse!... O Povo, sufocado por séculos de tirania, implora a D. Sebastião que instaure o Império Pentecostal Universal, inflamado pelo sonho e pela fantasia num delírio febril, acabando o monarca por acreditar-se o Messias e ver a África como o reduto do demo, e, contra os conselhos ajuizados da Corte, parte para Alcácer-Quibir onde o seu exército é desbaratado e ele próprio desaparece na refrega. Contudo, foi em Alcácer-Quibir decerto avançaria pelo interior da África até Jerusalém, o seu propósito principal nessa cruzada santa, e após a conquistar, certamente nomear-se-ia Monarca Universal, por Graça e Direito!... Todavia, o seu propósito de domínio espiritual e temporal do Mundo não passou de uma intenção aventureira que o País teve de pagar bem caro.

Não irei historiografar neste estudo os lugares idos e presentes de realização de Cultos Populares ao Império Divino. A bibliografia é vasta e muito rica; e é natural que assim seja, visto este Festejo ser genuína e exclusivamente português.

Mas seria imperdoável se não transcrevesse aqui o texto comprovativo da oficialização da Festa do Espírito Santo em Alenquer, dado à estampa por CUNHA, 1642:


“E por estarmos em Alenquer, razão será não saiamos dela sem apontar o que achámos escrito em certo memorial, que os do governo da mesma vila ofereceram a Filipe II na ocasião que queria desanexar da sua coroa este lugar para o dar ao Conde de Salinas D. Diogo da Silva, vice-rei, que foi deste reino. Ali se diz, como vivendo ainda a Rainha Stª. Isabel e andando com pensamentos de fundar nela uma igreja sumptuosa ao Espírito Santo, achou pela manhã lançados os fundamentos por mãos de Anjos e a obra em altura que já se podia nela ver a mesma traça, pela qual a Santa Rainha a determinava edificar. Ela e El-Rei D. Dinis seu marido foram os autores da festa que se chama o Espírito Santo, cuja solenidade foi tão célebre por todo o reino e mais nos maiores e mais populosos lugares dele, como ouvimos contar os antigos: a que hoje dura em Alenquer tinha a mesma celebridade pelo reino, isto é, eleger-se e constituir-se imperador, que na primeira oitava do Espírito Santo, com magestade real, assistisse aos ofícios divinos, andasse na procissão, condecorasse com sua presença as mesas, honrasse as festas e invenções, em que o povo procurava alegrar-se. Em Alenquer se celebra ainda esta ação, que chamam do Império, com grande aparato. Levam três coroas e uma delas, que foi da Rainha Stª. Isabel. Servem pessoas nobres, e de qualidade ao imperador, que está em trono, debaixo do dossel, onde se assenta depois de haver oferecido junto do altar uma daquelas coroas, na mão do sacerdote, que diz a missa. E mandaram estes Senhores Reis, que assistindo o príncipe herdeiro do reino nesta ocasião em Alenquer ele fosse o que levasse a coroa, da igreja do Espírito Santo à do mosteiro de S. Francisco, onde se dá princípio a festa: cuja parte principal é que no sábado, véspera de Pentecostes se cerca com uma coroa ou rolo de cera benta tudo o que há na vila, começando do mosteiro de S. Francisco até à igreja do Espírito Santo, assistindo toda ela em procissão, no que se viram já por vezes milagrosos efeitos, porque fazendo-o esta cerimônia em tempo de grande peste foi Deus servido acabar-se o mal e tornar-se a serenidade”. (1642, f. 122)

Abordei neste estudo, sobretudo, o pouco ou nada do conhecido aspecto mítico ou esotérico do corpo do Festejo. e, assim estabeleço uma questão: se está por advir um derradeiro Quinto Império Lusitano tendo sido os anteriores o Persa, o Assírio, o Grego e o Romano, acaso as dinastias portuguesas tiveram alguma influência na sua forjação?

A resposta só pode ser positiva. Se se dispuser o quadro cronológico das 4 dinastias, indo de 1128 até 1978 (ano que para Fernando Pessoa encerra o ciclo da existência do império temporal português, iniciando um outro marcado pela transição do Sol da 4ª para a 5ª casa do seu Horóscopo de Portugal), distam 850 anos, perfazendo exatamente 50 ciclos de 17 anos, distribuídos organicamente no decurso da História Nacional, conforme o quadro seguinte composto pelo Dr. Manuel Gandra em estudo deste.

Cinqüenta é o número do Jubileu e conseqüentemente retorno ao Estado Primordial, o número da instauração definitiva da Era Messiânica antecedida pela República, a qual tão-só configura a fermentação básica do 5° Ciclo ou Império, e através da qual as políticas nacionais e estrangeiras importadas concorrem, duma ou doutra maneira (“escrever direito por linhas tortas”), para o advento da Monarquia Universal, do Império do Presbítero João, tanto valendo por Parúsia do Espírito Santo!

Tal Parúsia Universal, tendo como expressão a religião nacional do Paracleto, expressa pela Função Folia ou Império, obviamente que só podia ter na Terra por modelo paradigmático da Jerusalém Celeste, um lugar unitivo dos dois pólos do Mundo. E esse lugar escolhido foi exatamente Alenquer. Mas Alenquer significa, também, etimologicamente, além e quer ou kar, em bretão, ‘pedra’. Isto é, Pedra do Além, Pedra Deus; o mesmo que Lusa, antigo nome da Belém hebraica, onde nasceu o Cristo, tipomorfizando o Espírito Santo na sua dualidade celestial-terreal; e aqui, a Mãe, a Terra, a Lua, a Moira Fatímida, está em Meca, complemento de Alenquer, de que dista poucos quilômetros. Não é por acaso que a Rainha Stª Isabel oficializou, à testa dos Franciscanos, o Culto do Império Popular do Espírito Santo, precisamente em Alenquer!...

A transição de Netuno-Peixes para Urano – Aquário, no “Horóscopo de Portugal” feito por Fernando Pessoa, mas dado `a estampa por Antônio Telmo, também tem a ver com os festejos do Janus ( em feminino Janas), bicéfalo dos Latinos. È o mesmo São João Veraneal e o São João Invernal, o Batista e o Evangelista correspondendo cosmogonicamente aos Solstícios do Verão e do Inverno, dividindo assim o ano em duas partes a Fase Ascendente (Nivriti-Marga) corresponde ao signo do Caranguejo; a S. João Batista corporificando o Deva-Yana, o Anunciador da Luz; do Pentecostes ou Páscoa Rosada, quando o Sol brilha no auge, tal qual os Impérios Populares, extravasando a sua alegria nos folguedos que são ritos ígneos, como adiante se verá.

A Fase Descendente (Priviti-Marga) corresponde ao signo do Capricórnio; a S. João Evangelista, representando o Pitri-Yana, o Anunciador da Natividade, da descida à Gruta; ao Útero Materno; renascendo das “Trevas Primordiais” quando o Batista pronuncia o Fiat Lux, pela Festa da Ressurreição, quando a Natureza irrompe viva e colorida do ventre da Mãe-Terra, para a alegria da luz do dia, pela Primavera; pelas Maias. Daí o local da celebração da Missa de Pentecostes estar então tapeteado com flores de cores diversas, destacando-se as amarelas, azuis e vermelhas, numa mistura simbiótica configurando formas geométricas de beleza matiz ímpar. Representa, o tapete floral, o Espírito Santo manifestando-se pela Natureza como Bem, Bom e Belo.

Os São Joões representam igualmente a energia centrífuga (Satva) e a energia centrípeta (Tamas) oposicionantes, digladiadoras entre si como forças opostas vitais a toda Natureza que as equilibra com o seu ritmo ou Rajas, elemento azuláceo permeio às anteriores. Por isto todos os templos consagrados ao Divino Espírito Santo (como o de St° Antônio do Penedo, Sintra) estão pintados de azul celeste. E essa oposição Joanina não deixa de estar assinalada zodiacalmente em Câncer-Capricórnio; opostos vitais ou complementares um do outro.

São as trevas – mestras da Criação as colunas siderais do Espírito Santo que é o Supremo Arquiteto (Vishwakarman, em sânscrito), projetando-se como Paráklitòs ou “Advogado” das Nações, com Deva-Yana à destra e Pitri-Yana à sinistra.

Nos dois últimos parágrafos, encontra-se a chave oculta de alguns dos Mistérios da Tradição das Idades, e também da origem e razão dos Impérios que, se seguir o fio quase sutil das tradições histórico-religiosas, remontam aos cultos lunissolares dos Atlantes ibéricos.

Na folia do Império, o ritual de imolação do touro pelo povo, num improvisado toureio, sugere-me uma ressureição do culto bodivo de Ísis, venerada durante o Período Luso-Romano em quase todo o território nacional, tendo-se divinizado esse animal, características que depois a Igreja soube logo assimilar. Nesta tendência enquadram-se as bênçãos de animais e a tolerância para a sua participação em festejos de índole religiosa, como o boi de S. Marcos, em Alter do Chão; o boi bento de S. João de Braga e os bois consagrados junto à igreja circular ou votiva (formato identificado por Francisco de Holanda, no século XVI, à História Eucarística, e por mim ao Rodel do Espírito Santo, tanto valendo por Tur-Zim-Mumi – “O alado touro sagrado cavalgado por AKBEL”) de S. Mamede de Janas (perto da qual o pintor teve casa ou “monte”. Orago por Lei de Causalidade é o meu de Batismo Sacramental), nas cercanias de Sintra, no caminho para as Azenhas do Mar e para a igreja de S. Lourenço dos Anciãos onde, outrora, os Cavaleiros da Ordem do Mariz, se reuniam, junto à azenha ou mó marinha.

Ísis era apelidada piedosamente de “Vaca Divina” ou “Nutridora Celestial”; de acordo com esse último epíteto, será a carne do touro imolado que irá alimentar todos quantos, indiferenciando posições sociais e religiosas, se sentarem à mesa comum do Bodo.

Tal qual se pratica na Ilha Terceira, Açores, e se praticava na Lisboa quinhentista, fez-se, até bem pouco tempo, no lugar do Penedo, a tourada à corda, amarrando duas extensas cordas às hastes emboladas do cornúpeto, e dois ranchos de homens, puxando cada qual para o seu lado, procuravam sofrear-lhe o ímpeto. Lentamente a multidão ia comprimindo-se em torno do animal até este não se poder mover. Então, o matador, manejando habilmente a choupa (facão) sobre o pescoço da rês, à frente de todos abatia-a, sem que ninguém esboçasse um gesto de dor ou de repugnância. Era apenas um ritual milenar que se cumpria...

O touro simboliza a Mãe-Terra, a Vaca Sagrada Bhumi. Tradicionalmente, os ranchos que seguravam pelas cordas as hastes da rês eram de seis homens para cada banda. Representavam os doze signos do Zodíaco num fatalismo cósmico ligados ao destino da Terra, encadeada pelo Cordão de Ariadne, com seis signos Terra – Água ligando-se ao Passado, à Fase Descendente; e outros seis signos Fogo-Ar relacionando-se ao Futuro, à Fase Ascendente. O matador, como 13ª personagem que não participava dos ranchos, limitando-se a aguardar o momento fatal, assinalava o Sol sacrificando a Terra, determinando pelo relógio das constelações o final de um Ciclo, para que outro possa surgir como Novo Período ou Império.

Os cultos bodivos ou Taurobólios eram, na Atlântida, praticados por sacerdotes e sacerdotisas de Mu-Ísis, implorando em suas antifonias e litanias à constelação do Boieiro, Pai da Mãe-Terra, através de Vênus – Balança (signo regente da Atlântida), proteção e alimento para eles e seu povo.

No final, os oficiantes do templo de Netuno, deus supremo do panteão atlante, representado por Atlas, adormeciam com uma beberagem mágica uma vaca branca e sacrificavam-na. O seu sangue era colocado numa imensa pira no pedestal do ponto mais elevado do templo. Faziam uma fogueira ritual e ofereciam o sangue à Deusa – Mãe (IÓ), derramando-o no fogo (tradição que os Levitas Hebreus herdaram dos Semitas atlantes e praticavam-na com o sacrifício de animais no Altar das Oferendas do Templo de Salomão).

Os restos da rês eram distribuídos pelo povo, cada qual guardando um pedaço da carne sagrada (a primitiva hóstia identificada aos templos votivos ou circulares), como se tratasse dum poderoso talismã propício à proteção da Lua, de Mu-Ísis, Alma Psíquica da Terra, e desfrutar até o próximo Rodel Imperial (assim se chamava o ritual praticado no templo circular ou votivo de Netuno) das suas benesses e graças.

O Bodo ou Bodivo eram vocábulos com que se designavam os antigos Ágapes, “refeições rituais”, que nos primórdios do Cristianismo realizavam-se no interior dos templos.

Viterbo diz que, em Portugal, “não há dúvida alguma que estes ágapes se continuaram e com a moderação possível, durante o jugo dos Sarracenos”, portanto durante o Período Moçárabe. Após a vitória dos Cristãos, a piedade religiosa fez recrudescer estes “bodivos que, ao depois, se disseram bodos, isto é, refeição, jantar ou comedoria, que aos pobres se dava pelas almas dos defuntos”.

Essa cerimônia do “Rodel Imperial” possuiu um especial relevo entre os Vascos ou Bascos da Península Ibérica, gente lunar de descendência atlante, adoradora do astro noturno, em oposição aos Gallaici ou Galegos portucalenses adoradores do Sol, de Mu-Ká do templo de Jehovah, Io-Pítar ou Júpiter, Zeus, o Pai dos Deuses, que veio a ser o deus Lug e depois o Endovélico, e, com a instauração da Monarquia Lusitana, o Arcanjo Custódio de Portugal, Mikael, o Metraton (Orago das sinagogas ibéricas).

E, por razões causais, Portugal está sob a custódia ou influência astrológica de Peixes-Netuno, assim como toda a Península Ibérica é influenciada por Sagitário-Júpiter!...
Será essa a razão fundamental de as touradas terem a sua origem na Península Ibérica, e tanto o rodel atlante como o atual não são senão um Zodíaco em cujo constelado se senta o público; o Iniciador, Hierofante ou Mestre, é o Cavaleiro; os bandarilheiros são os Companheiros, e os forcados, por sua vez, os Aprendizes. Os primeiros vão sobre o cavalo (símbolo perfeito do Sagitário), significando a natureza superior do homem dominando a natureza inferior do animal ou anímica. Os Companheiros, ao porem as bandarilhas ou bastões, já começam a sentir-se superiores à fera, sendo já à maneira do Arjuna do Baghavad-Gïta perseguindo o inimigo, e o Mestre-toureiro com a capa vermelha tamásica da ilusão, dominando Maya, e com a Espada do Conhecimento Iniciático resulta, ao modo do deus Krishna do acima citado Poema, não o perseguidor mas o Matador da fera, da simbólica besta bramadora, enquanto os Aprendizes ou forcados, ainda indefesos na arte de bem domar, a enfrentam com as mãos nuas, sujeitando-se às incertezas da sorte.

Há uma diferença crucial entre touro e vaca: o touro representa o Fogo, o Solstício de Verão, o Deva-Yana (“Anjo da Sabedoria”) ligando-se ao 5° Mundo Espiritual, à Natureza fecundante e plena. A vaca assinala a Água, o Solstício de Inverno, o Pitri-Yana (“Pai da Sabedoria”) ligando-se ao V Império Terreal, à Natureza fecundada e gestante, logo recolhida ou interiorizada durante os frios gélidos da Estação. Nas touradas, são as vacas que conduzem os touros ao recolhimento do redil!... o Bodo da Festa de Pentecostes é preparado por mulheres e a elas, as de Sintra, se deve a invenção dum bolo doce, especialmente preparado para a ocasião: os bolos da lua, que se tornariam as tradicionais e saborosas queijadas!...

Segundo a Sabedoria Iniciática, as Estações são regidas por 4 poderosos Arcanjos, na Tradição Teúrgica, os “4 Maharajas”. O Solstício de Verão é regido pelo Arcanjo Mikael (Fogo); durante os três meses de seu Império tem por símbolo a imagem da Pomba, associando à cor azul-celeste da Mãe Natureza, o vermelho vivo da aura humana enrubescida pelo enxofre veraneal, e tendo por destaque a ourífera ação substancial do Pai Eterno, o Logos Solar. Entre o Pai e a Mãe contempla-se o Filho. O Império do Espírito Santo nasce assim. O fundo sobre o qual se destaca é dado pela figura de Mikael, “Quem é Deus” (Qui ust Deus), que sendo o “Primeiro em Deus” (Primus Deus) é o próprio Deus como Sollis Vitae, representado no sítio do Penedo pelo Orago deste: Santo Antônio (Aton, o Sol) do Espírito Santo.

Ora as cores tradicionais do Paracleto são, precisamente, vermelho entremesclado com dourado sobre fundo azul-céu. Quanto aos “Quatro-Maharajas”, na nomenclatura judaico-cristã, são:

RAFAEL – PRIMAVERA – NORTE – AR
MIKAEL – VERÃO – SUL – FOGO
GABRIEL – OUTONO – LESTE – ÁGUA
AURIEL – INVERNO – OESTE – TERRA

Três Santos são ao Patronos tradicionais dos festejos populares do Império do Divino Espírito Santo: S. João Batista, S. Sebastião e o Anjo Custódio.

De São João, o Anunciador do Império Universal a ser instaurado pelo Quinto Cavaleiro Apocalíptico, o Senhor da Espada Flamejante, já falei. Aliás, a Escritura Joanina é a preferida das tradições ocidentais por ser a que mais se enquadra na Religião Solar do Verbo Criador.

Segundo STEINER:


“foi Lázaro quem escreveu o Evangelho de João. Realmente Lázaro recebeu do próprio Cristo a 4ª Iniciação (de Arhat ou Chrestus, equivalente à Crucificação ou Morte), descendo à Cripta, aos Mundos Inferiores ou Interiores. Ressuscitando do estado cataléptico como desdobramento consciente da alma ao terceiro dia e tornando-se, assim, um Dwija ou “Duas Vezes Nascido”, a primeira vez de Mulher ou pelo Corpo, e a segunda vez de Homem ou pelo Espírito, logo um Iniciado Perfeito. Ora os Preclaros Membros da Linhagem dos Arautos ou Yokanãs, os São Joões, Escudeiros da Obra do Avatara de Peixes, eram todos eles Grandes Iniciados que haviam passado pela Crise da 4ª Iniciação, tornando-se desse modo Chrestus ou Arhats de Fogo, sendo Lázaro o símbolo vivo dessa Coletividade de Iluminados por Obra e Graça do Espírito Santo – O Terceiro Logos, Shiva ou Adam-kadmon. (1981)


A luz do Livro do Akasha, Lázaro significa realmente:
LÁZARO OU LAHZAR = O Iniciado bíblico.

LAZARIM = A coletividade dos Iniciados aramaicos (os LAZARETH, que viviam em Nazar-Heth – Nazaré -, então uma comundade dos Nazar, que se tornavam Lazareth quando passavam da 3ª para a 4ª Iniciação. Esta Companhia ficou conhecida na História como Ordem dos Essênios, tendo por Instrutores os Nazar, por Iniciadores os Lazareth e por Patriarcas ou Perfeitos os Lazarinos. Os Lazarinos ou Lazarim eram os “Duas Vezes Nascidos”, possuidores da 5ª Iniciação Real e tendo se reintegrado no 5° Reino Espiritual representado pelo Mundo de Agharta; viviam em isolamento quase total nas grutas espalhadas ao longo das margens do Mar Morto, montando guarda a Relíquias Vivas de que não me é lícito falar!... João Batista, João Evangelista, Jesus, Lázaro, Paulo e uns quantos mais eram Lazareth que depois vieram a ser, pelo processo de Iniciação, Lazarim.

O topônimo jina Lazarim é, inclusive, o de uma localidade na margem sul do Rio Tejo, próxima de Cruz de Pau, neste contexto valendo por palos do Madeiro inflamado dos Arhaths de Fogo, os Lazareth.

O Cristo era o Messias, o Enviado de Heli, o Sol Espiritual, sendo o Chefe Supremo de todos os Lazarinos ou Adeptos Reais.

Para terminar esta análise, tenho a reconhecer que o mal da atual teologia católica é não saber distinguir entre o Emanente e o Transcedente, entre o Jesus-Homem e o Cristo-Deus. São Entidades perfeitamente distintas, ainda que interligadas.

São Sebastião que morreu atravessado por três flechas – Patrono dos Templários de Tomar – escreve-se SBSTH, o “Homem-Serpente” (Homo Serpens), equivalente ao Iniciado na de Cripta, e, no plano da Natureza, à força telúrgica encadeada num lugar ou pessoa (Homo Teluricus), ou em ambos simultaneamente. As flechas representam as três qualidades básicas da Matéria: Satva, Rajas e Tamas, ou sejam, Energia Centrífuga, Energia Equilibrante e Energia Centrípeta. Nas igrejas que têm por Orago São Sebastião, é costume verem-se retratadas iconograficamente as três flechas enlaçadas por uma coroa: designa a Matéria Coroada, melhor dito, o Mundo Coroado pelo Espírito Criador de Sebastião, o Profeta e também Consolador da Humanidade desprotegida representando, num nível mais íntimo ou templário, a natureza coletiva do Povo Jina. No Festejo do Império Divino, Sebastião é assumido como Português, e, como tal, mitosoficamente Portugal é o País Sebástico destinado a Consolador das Nações...

Quanto ao Arcanjo dito Anjo Custódio, já se sabe tratar-se de S. Miguel, melhor dito, Mikael, prerrogativa concedida por D. Manuel I a Portugal de invocá-lo como Guardião Nacional ( o Espírito da Egrégora ou “Alma Sinergética” do Reino), pois a ele compete por missão velar pela Terra dos vivos e pelo Oceano dos mortos, visto ser o Guardião do Umbral entre a Mortalidade e a Imortalidade. Por isso possuía também o nome de Bérrio, por separar os viventes dos não viventes e demarcar a fronteira entre os Mundos Espiritual e Material.

Mikael tem por atributos a Balança e a Espada; uma pesa as almas separando os justos dos injustos, impondo a Lei da Justiça Universal, representada por Vênus. A outra designa a Harmonia Universal, a Ordem, o Verbo, a Paz assinalada por Mercúrio. Dá-se aqui a identificação de Mikael com o Melkitsedek bíblico, Rei e Sacerdote, e modelo do Prestes João, Rei de Justiça (LEX) e de Salém (PAX).

A manifestação do Arcanjo Primeiro, Custódio do Reino, assinala sempre a glória da Shekinah, a Grande PAZ e LUZ do Messias, sendo representada pela 10ª Sephiroth: Malkuth, com o significado de o “Reino” (Assiah) e o “Justo” (Tsedek).

Portugal assume-se, assim, desde os primórdios da sua existência como País estruturado, e com a cobertura de Cister, de Avis e do Templo, como Ungido de Deus, pois o Sacerdócio de Melkitsedek, compatível com o conceito de Realeza Divina, corresponde ao de El – Elion e este ao de Emanuel, razão de não pouco peso para que, no século XVI, o Rei D. Manuel I. Emanuel de nome, antes Mestre da Ordem de Cristo e não menos curiosamente o 14° Rei de Portugal (como aliás a Profecia de Isaías exigia), se apresenta como “Rei de Portugal e do resto...”, isto é, como Rei do Mundo, conforme está gravado na lápide de seu túmulo no Mosteiro dos Jerônimos, Lisboa. O que lhe confere, inclusive, legitimidade para convocar a cruzada contra o Turco, como se depreende das suas cartas ao Cardeal de Cisneros.

O próprio nascimento do Rei Venturoso é rodeado de sortilégio e celestial desígnio, conforme relata GÓIS:


“E parece que houve em seu nascimento mistério, porque havia já alguns dias que a Infanta Dona Beatriz, sua mãe, andava com dores, sem puder parir, e quis Nosso – Senhor alumiá-la com o Santo Sacramento, chegando à porta da sua casa, por onde passava procissão, e por o dia em que nasceu ser o da invocação do venerável Sacramento, lhe puseram o nome EMANUEL, o qual nome é um dos grandes do Senhor Deus, cuja festa se celebrava naquele dia, em que lhe aprouve dar ser tão exaltado e glorificado como ao presente é por todo o universo, onde por meio, indústria e despesa deste magnânimo Rei a Nação Portuguesa por armas, ou por amor pôde penetrar”. (GÓIS, 1566)

Eis o significado do nome “impérios populares”, das suas origens míticas, dos toureiros e dos santos da invocação do Pentecostes. Falarei, agora, do Imperador e da tríplice Coroação durante a cerimônia do Divino Império!.

O Menino – Imperador, empunhando com ambas as mãos o cetro, símbolo do Poder Temporal do Mundo e do Monarca Universal, vem ladeado por outro par de meninos: à esquerda, o imperador do ano transato transportando a bandeira do Império, religiosamente guardada na igreja durante o tempo que medeia entre duas Festas. Representa o Império Cíclico dum momento passado e o Guardião da Tradição. À direita, o condestável com o espadim real ou faim, palavra que Bluteau considera já antiga, encostado ao ombro esquerdo (o lado passivo, subjetivo do homem, do que está por cumprir), será também coroado para reger no Império do ano seguinte. Designa o Mantenedor da Tradição no futuro Império Cíclico.

A designação de Império, nesta tradição popular, equivale à Festividade Pentecostal, sendo a Casa do Império ou lugar onde se guardam as alfaias, a Igreja do Império onde se celebra a Missa de Pentecostes e se faz a Coroação, o Terreiro do Império, espaço aberto fronteiro ao templo, onde tem lugar a morte do touro e o bodo, a Cabeça do Império, finalmente, é a Confraria do Espírito Santo local encarregada de escolher o Imperador pelos dotes de “bem e virtude” de sua família, pelo que para esta nomeação é a maior honra que pode almejar.

Voltando à tríplice Coroação dos três Meninos ou Delfins (representando) a MAITREYA em Sua Expressão Uno-Trina), ela não deixa de estar associada à tríplice tiara de S. Pedro (o Penedo, a Pedra Angular da Igreja iluminada pelo helíaco St° Antônio) e de S. Bernardo, juntos simbolizando o Androginismo Perfeito, as duas polaridades equilibradas, e simultaneamente o Governo Duplo, Temporal e Espiritual, interdependente, ambos corporizados no BRAHMATMÃ, o Rei do Mundo como o mesmíssimo MELKITSEDEK, Cumeeira da Hierarquia Planetária tendo como emblemática duas chaves sobre o Céu, da Terra e do Inferno. Há nisto uma analogia com a tríplice Coroação dos Infantes e os tempos existenciais.

IMPERADOR – PODER TEMPORAL – EM CUMPRIMENTO
SÍGNIFERO – VONTADE POPULAR – O CUMPRIDO
CONDESTÁVEL – AUTORIDADE ESPIRITUAL – A CUMPRIR

Nos Açores, o Menino-Imperador é conduzido, vestindo os trajes tradicionais de capa vermelha, calção e jaqueta em outro misturado com azul e calçando sapatos brancos, montando num cavalo branco, para a Missa de Pentecostes, com os imperadores dos anos ido e porvir atrás, a pé.

É a representação clássica do Paracleto (assinalado no Arcano 19 do Tarô – “O Sol), o Cavaleiro da Espada Flamejante de 9 Raios, Akdorge, cristianizado São Jorge, símile terreal de Mikael celestial que, segundo o Profetismo Lusitano, advirá das Brumas do Futuro, a fim de instaurar na Pátria por Deus escolhida o 5° e derradeiro Império Universal dos Justos e Perfeitos, desses que são as verdadeiras Crianças do Senhor!.

Por falar nisso, a preferência num menino, terá a ver com algo novo a criar e que, para o Bandarrismo judaico-cristão, é a imagem do divino Delfim adventista, o que se enquadra na sigla Sebástica e Graalística: Adveniat Regnum Tuum, pelo que também é identificado como a simbólica de um Novo Movimento Espiritual. Para mim, representa o Menino – Messias, o Cristo da Nova Era à dianteira do Movimento de Mestres, Iniciados e Discípulos de Aquário!...

Os Impérios foram levados do Continente para a Madeira e os Açores a bordo das caravelas da Ordem de Cristo, em Quinhentos e Seiscentos, em que iam juntamente muitos Franciscanos Beguinos, aos quais se deve, indubitavelmente, a disseminação das Folias do Império como base da Festividade Pentecostal, nas Ilhas adjacentes.

Açores provém etimologicamente de açor, ave de rapina semelhante às águias que foi cultivada no Arquipélago pelos primeiros colonos. Na sua totalidade, o Arquipélago dos Açores é uma semielipse, uma grinalda de ilhas em torno de um núcleo tríplice central formado pelas ilhas do Pico (elevando-se 2.300 metros acima do nível do mar), Faial e São Jorge. As duas mais ocidentais e mais vizinhas da América do Norte são as das Flores e do Corvo. Ora nesta última, Príncipe Dom João, havia ali uma enorme estátua eqüestre que, para mim, deverá recuar no tempo à lendária Atlântida.

Resumidamente, diz o cronista D. João VI:


“numa das ilhas mais extremas dos Açores, no alto de um monte, encontrou-se uma estátua, que saía maciça da mesma pedra, representava um homem a cavalo coberto com um manto e a cabeça descoberta. Com a mão esquerda agarrava as crinas apontando para o Ocidente.” ([16--], p. 53)


D. Manuel I mandou o seu vassalo Duarte d’Armas fazer um desenho dessa estranha figura, e posteriormente, deu ordem para que a trouxessem para a sua corte, porém só chegaram a Lisboa vários troços, dentre eles a cabeça, braço e mão direita, como também parte do cavalo, peças todas que foram guardadas no gabinete do Rei e que hoje não se sabe onde param!.

Na base em que assentava a estátua havia algumas letras esculpidas. Elas foram reduzidas em cera no ano de 1529 por Pedro da Fonseca, porém ninguém soube decifrar o seu significado. A estátua se encontrava no cume noroeste da serra que se eleva até ao centro da ilha do Corvo.

Esse cavaleiro pétreo é substituído presentemente por outro Cavaleiro, este de carne e osso: o Menino Imperial do Festejo do Espírito Santo, encarregado de transladar a Tradição Pentecostal Portuguesa para o Quinto Continente, para o Canadá e Américas. Nestas, destacando-se o Brasil, onde os sertanejos e bandeirantes a disseminaram, tornando S. Lourenço de Minas Gerais como centro axial do Divino Império Brasileiro, a “Nova Lusitânia” de que fala Pedro Mariz.
Dessa exportação do Império Soberano de Portugal para o Brasil, falam diversos autores brasileiros a nós irmanados pela mesma Pátria que é a Língua Portuguesa, nas palavras do Vate.


Diz Araújo:


“A festa do Pentecostes, que no meio rural é conhecida pelo nome de Festa do Divino Espírito Santo, é uma das mais antigas tradições religioso – profanas que possuímos. Oriunda de Portugal, pois foi introduzida pela Rainha Isabel, aqui aportou nos primórdios da colonização”. (1954, p. 63.)


Já antes Almeida havia escrito:


“A origem desta tradição sob o céu do Brasil é contada por Melo Morais Filho em seu apreciado livro Festas e Tradições do Brasil, em que diz: Referem antigos cronistas que as festas do Divino foram instituídas em Portugal pela Rainha Santa Isabel...” (1939, p. 33.)


Por seu turno, Câmara Cascudo explica:


“Desde o século XVI foi festa divulgada no Brasil, dizendo-se que datava em Portugal de El-Rei Dom Diniz lá pelo ano de mil duzentos e tantos, logo após seu casamento com a Rainha Santa. Teve essa festa por berço a então vila de Alenquer, de onde se irradiou por todo o continente português, instalando-se definitivamente e com raízes profundas no arquipélago dos Açores desde o início de seu povoamento regular.” (1954, p. 236)


Assim, através desta Festividade Sacro-Imperial sob o sinete do Espírito Santo, Portugal – Brasil jungem-se também aqui como Pátria – Gêmea onde impera uma só Língua, um só Valor, um só Espírito sob a chancela do Quinto Senhor, o Cristo de Aquário, CHENRAZI AKTALAYA MAITREYA.

Cada homem e cada povo invocam o nome de Deus. O convívio experienciado de três tradições filosóficas e teológicas – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo – serve de testemunho aos construtores do V Império. Com o vindouro Infante de Sagres, o Espírito passará.

Em jubilosa esperança fica-se aguardando por entre as três colunas do Templo do Espírito Santo: a Saudade, o V Império, o Messias.

Como preconiza Gomes:


“Nesse dia celebraremos a missa sobre o mundo. No altar do mundo, a missa de louvor de toda a humanidade. A liturgia já não celebrará os mistérios da paixão e da morte. A literatura litúrgica arquivará as orações de súplica. Tudo será liturgia de louvor. Cantaremos e adoraremos, ternos-emos associado para amar e, desse modo, já desnecessário será pedir, suplicar. Só louvaremos, pela liturgia do louvor, como anjos reboando, pombas brancas, no azul-celeste, entoando glórias à Vida”. (1992)


Esta leitura sobre as festas do Divino permite entender todo o ritual atual das festas no município de Osório. Das festas antigas às atuais, os símbolos permanecem os mesmos com os mesmos significados.

2 IMPÉRIO DOS NOBRES: O QUE RESTA DE UMA TRADIÇÃO


Todos os anos, por alturas do Pentecostes, a Câmara Municipal da Horta , em Portugal, promove as solenidades relacionadas com data. Essa iniciativa, como se sabe, vem na seqüência de um voto feito pelo povo da ilha do Faial, reconhecido por ter sobrevivido à violenta erupção vulcânica que se verificou entre a Praia do Norte e o Capelo, a 24 de Abril de 1672, e deu origem ao Império dos Nobres. Recorramos aos Anais do Município da Horta, de Marcelino Lima, para traçar o historial dessa festa do Espírito Santo, que, sem dúvida, é a mais importante da ilha: as festas do Espírito Santo tinham decaído em toda a Ilha do Faial.

A desgraça, a pavorosa desgraça, destruindo num instante habitações e vastos campos de pão, foi como um aviso celeste que reavivou a fé nos corações. No primeiro de Maio, porque o fogo decrescera, “os devotos do Espírito Santo levaram mastros com suas bandeiras nos lugares onde era costume fazerem suas arramadas e dar suas massas de comer aos pobres”.

Na igreja da Misericórdia houve festa; e foi nesse mesmo dia e igreja que os da nobreza “resolveram instituir nova irmandade em louvor do Senhor Espírito Santo, que os mais antigos conservavam e com a morte dos principais se extinguira este compromisso que de novo elegeram. Assim mais concordaram que em dia do Senhor Espírito Santo, todos os anos e enquanto o mundo durar sairá uma procissão solene ordenada pelos ditos oficiais da Câmara, da igreja Matriz desta Vila e se recolherá na igreja da Misericórdia. Será cantada missa com sermão a que assistirá o corpo da Câmara fazendo – se gastos e despesas à custa dela em ação de graças, tomando todos os moradores desta ilha por seu protetor e padroeiro dela imemorável o mesmo Divino Espírito Santo. Esperam alcançar vencer a força do dito fogo e consiguir nesta ilha grandes felicidades, paz e concórdia entre os moradores dela. Assim se constituiu o chamado império dos Nobres, o mais notável da ilha.

A arramada ( império) hoje muito diferente do que primitivamente foi, sempre se realizou, como ainda se realiza, na rua da Misericórdia – atual rua de D. Pedro IV. O teatro ou cadafalso armava – se no meio da rua, um pouco adiante da presente casa do império, que só em meado de 1700 é que foi construída. No teatro ( um tablado espaçoso defendido do sol por uma cobertura de ramagens) expunha –se a coroa, como já disse, e aos irmãos oferecia o imperador o jantar da festa. A arramada propriamente dita, debailxo da qual se procedia à entrega do bodo aos pobres, fazia – se defronte do teatro, em toda a extensão da rua, até à igreja da Misericórdia.

Outrora a solenidade do império dos Nobres (conforme o auto da instituição) começava por uma missa rezada na Matriz; finda esta, saía o imperador em procissão, de coroa na cabeça, nas mãos o cetro, caminhando o pagem ao lado com o estoque, a caminho da igreja da Misericórdia. Os foliões, entregues ao seu foliar, abrim o cortejo formado por duas alas de irmãos e convidados empunhando varas – uso hoje ainda não de todo abolido, lembrando as canas conduzidas no tempo da Rainha Santa. Após a missa solene, nova procissão até ao império, que já devia ter as esmolas dispostas nas mesas, debaixo da arramada, para serem abençoadas pela passagem do Espírito Santo.

Depois do meio – dia, no teatro, tinha começo o jantar, que se prolongava até tarde. O imperador sentava – se na cabeceira da mesa com os dois trinchantes, um de cada lado, e a seguir os irmãos, que se iam revezando à proporção que se avolumavam de comesaina.

Mas este império restabelecido com grande aflição, ao cabo de algumas dezenas de anos decaía de novo, em razão dos excessos de vaidade que os abastados haviam introduzido (disse o procurador Mendonça Furtado em sessão de 29 de Abril de 1747), oferecendo banquetes lautos que os apenas remediados não podiam imitar, resultando disso muitos esquivarem –se à obrigação de imperador. Reunidos em nova sessão daí a dias, com a assistência de várias pessoas da nobreza:


“sentaram que o imperador seria obrigado a contribuir com tudo o que for necessário para o serviço de sua mesa no teatro, na forma que até ao presente se tem observado, a qual se findará com um só serviço de doce, e no que respeita às esmolas que ele dito imperador deve dar aos pobres de pão não será menos dum moio de trigo, carne proporcionada ao dito pão repartido em esmolas, e não terá obrigação de contribuir com mais cousa alguma...”.


Entre as famílias de maior posse, onde um homem era o chefe, era, geralmente, escolhido o imperador. Estas famílias faziam questão de mostrar aos parentes e amigos de menores posses o tamanho de sua riqueza, através de grandes banquetes nas Festas do Divino Espírito Santo. Assim, eram inibidas as famílias de poucas posses a concorrer, no ano que se seguiria, à escolha do imperador. Posteriormente, após reunião com a comunidade, ficou determinada a quantidade de alimentos que o imperador poderia proporcionar à comunidade nos dias da Festa do Divino Espírito Santo. A intenção dessa decisão era permitir que homens de várias classes sociais tivessem a oportunidade de concorrer para imperador, dando continuidade às Festas do Divino sem grandes banquetes, denotando assim, que a festa pertence ao povo e não a poucas pessoas com maior poder aquisitivo, podendo, inclusive, ser organizada pela irmandade e o imperador juntamente com a comunidade carente, que comia a carne uma vez só ao ano, na Festa do Divino Espírito Santo.

“Um só serviço de doce...”. Esta frase traz – nos à imaginação o que seria a torrente de guloseimas rodando por cima daquela mesa, em louvor do Espírito Santo. Eu calculo: fartas travessas de arroz doce, pratadas de ovo real, pão de ló, trabalhados alfenim...

Do que fica dito não só se avalia a importância desta festividade há dois séculos, como se obtém uma sucinta idéia das suas características – a jantarada oferecida pelo imperador no teatro, natureza das esmolas e condições da entrega debaixo da ramada, etc.

Parece que as resoluções tomadas influíram para a regular existência do império, pelo menos durante largo período. Levam-me a tal suposição algumas festas de luzimento que ali se realizaram no primeiro quartel do século XIX.

Uma, efetuou-a o cônsul francês Sergio Pereira Ribeiro em 1812. Concorreu com todo o bodo aos pobres. Era então a Câmara que fazia os convites para o serviço do império, tanto no teatro, como na arramada: nesse ano, porém, foi ele imperador, Sérgio Ribeiro, que escolheu pessoas para as funções de copeiros e trinchantes, de porta – estandarte, de capitão da guarda. Oito oficiais de milícias conduziram as lanternas e pegaram às varas do pálio.

Outra festa, a mais grandiosa de que há memória na Horta, foi feita em 1822 pelo morgado Jorge da Cunha, pela sua grande fortuna e hábitos de ostentação, dava sempre a todos os atos da sua vida requintes de fidalguia que o notabilizaram. Constituiu um deles esta festividade do Espírito Santo.

Em 1831, realizou-se outra festa sensacional, embora não tanto ruidosa como a do morgado Cunha, mas também de grande aparato. Fê-la a baronesa da Alagoa, D. Francisca Paula, consorte do morgado Terra, em cumprimento duma promessa, quando da prisão política de seu marido. Coroou seu filho Tomaz José Brum Terra, que trajava capa de seda preta com vistas encarnadas, calção e meia de seda. Serviu de pagem, conduzindo o estoque, o outro filho, Manuel Maria da Terra Brum, que teria então sete anos. Vestiram-se doze pobres; o bodo foi abundantíssimo e pejada de iguarias a mesa do teatro. A residência do morgado, que era ali mesmo, esteve engalanada de ricas colgaduras e de bandeiras. Houve um baile esplêndido, que ficou memorável, e também iluminação em toda a rua da Misericórdia.

Nesta época, os gastos que a Câmara fazia com o império somavam apenas 18.880 réis assim descriminados: pregador 8.000 réis de tabuado e barris para as mesas, 3.680 réis. A despesa do bodo e do jantar no teatro andava, como sempre andara, exclusivamente à conta da nobreza.

Mas o império correu outra vez o risco de se extinguir. Não havia quem quisesse ser imperador. Para obviar a esta situação lastimável, talvez originada pelo jacobinismo vintista, que considerava progresso o desligar-se de peias religiosas, tomou a Câmara em 1825 uma deliberação radical: não se fazer despesa alguma com o império, nem com foliões, nem com assados e farelórios, aplicando todo o dinheiro cobrado no bodo aos pobres, que foi distribuído, logo que findou a missa, na casa da escola de filosofia (atual casa império).

Não se tem notícia deste sistema se ter mantido nos anos seguintes. Porém, em 1837, era já a Câmara que se encarregava de receber dos particulares a importância para o bodo. Garcia do Rosário, contemporâneo do fato, diz: “sensibilizada (a Câmara) por não se desempenhar a outra parte, a mais principal, que era matar a fome aos pobres, cometeu a baixeza de andar pelas portas dos nobres pedindo com que se arranjasse algumas rações aos pobres e tomando ao cuidado o que não lhe competia; continuou isto ao ano de 1844”.

Nesse referido ano de 1837 o produto para as esmolas do império foi de 101$890 réis, que o vereador Sebastião de Arriaga obteve e apresentou em sessão de 13 de Maio. Acordaram os vereadores (para se livrarem de maçadas) que, em vez das rações de pão e carne entregues no império, se distribuísse aquela quantia pelas amas dos expostos, na razão de 480 réis a cada uma, no dia da festividade, antes da missa. Estavam fora da letra do voto. Era deturpar, senão repudiar o antiqüíssimo, piedoso desejo do povo.

Na sessão de 9 de Maio do ano seguinte, como o auxílio dos particulares era já quási nenhum, deliberou a Câmara convidar a irmandade a tomar conta da realização do império, e, caso assim não pudesse ser por falta de irmãos, que se extinguisse o voto. Este alvitre boliu com os nervos da nobreza, e o voto continuou. Mais até – reanimou-se.

Este novo interesse pelo império dos Nobres suscitou à Câmara a idéia de se reconstituir a irmandade. Era então presidente do Município o há pouco e já mais de uma vez citado, Francisco Garcia do Rosário, advogado e ex-governador civil.

No auto lavrado por este motivo, em livro especial, aos 23 de Abril de 1845, dizem ser criada de novo a irmandade “para que se não extinguisse a pia devoção do voto instituído e não tomar a Câmara sobre si o incómodo de andar mendigando pelas portas o fundo necessário para o desempenho da referida promessa”. Convidaram para fazer parte da irmandade numerosos cidadãos, sem atender a tradições de nobreza, já muito reduzida, ao passo que a da abastança e dedicação, neste caso, é que era essencial; e nesta conformidade, eivados pelas idéias democráticas da época, substituíram a denominação de império dos Nobres pela de Império de Reconhecimento e Beneficência, que julgaram mais atual e verdadeira. Os irmãos podiam ser, quer do sexo feminino, quer do masculino, e tinham a faculdade de concorrer com uma ou mais ações para as esmolas, correspondendo uma ação a seis esmolas, cada uma composta de três pais, quartilho e meio de vinho e uma libra de carne. Ficavam a cargo da Câmara a festividade religiosa e os serviços do império.

Alguns anos depois, nova tentativa de alteração do voto. Propôs o vereador Joaquim Pereira de Lacerda (sessão de 18 de Março de 1863) que o valor das ações com que os irmãos concorriam fosse reduzido a inscrições da dívida pública ou depositado na Caixa Econômica e com os juros se auxiliasse o Asilo da Infância Desvalida. Na sessão imediata (a 22) deliberaram Câmara e irmandade, conjuntamente, que se não alterasse as antigas disposições, sempre respeitadas do voto. Demais, cobrar dinheiro para uma cousa e aplica-lo noutra, não significava alteração, mas pura e simplesmente negação do estabelecido.

No entanto, a indiferença, tão peculiar à natureza humana, mais uma vez entibiou o entusiasmo do componentes da irmandade, a ponto que esta, em 1880 e tal, praticamente não existia, e era a Câmara que de novo se encarregava das obrigações do império – mendigar a importância das esmolas e realizar a festividade.

Veio por fim a Republica, toda entufada de critério, atirando vassouradas a velharias e praxes, e o Município, “seu mui digno” representante, repudiou afanosamente o compromisso dos antepassados, feito numa hora sagrada de penúria e de angústia, expressão da mais pura beleza moral – a Caridade. Então um grupo de particulares tomou sobre si o dever, que se impunha desde longuíssima data, e continuou cumprindo, de conformidade com a tradição, o voto instituído.

Presentemente é de novo a Câmara, regressada ao bom senso, que se incumbe da festividade religiosa e serviços do império, contribuindo de mão dada com alguns particulares para as despesas do bodo. Normalmente distribuem-se 800 a 1,000 esmolas.

Mas, de simplificação em simplificação, o império dos Nobres, a não ser o pão e carne que dá, já pouco, muito pouco representa do que foi no seu início.





CONCLUSÃO



O trabalho de pesquisa que foi apresentado, investigou a Cultura – Sócio Religiosa das Festas do Divino Espírito Santo no município de Osório.

O problema proposto para este trabalho de pesquisa procurou analisar quais as transformacões que podem ser percebidas nas Festas do Divino Espírito Santo em Osório, desde a sua origem até a contemporaneidade. Os objetivos buscaram identificar a Cultura das Festas do Divino durante a formacão e o desenvolvimento do muncípio de Osório; localizar o grupos das folias do existente hoje; tracar paralelos entre a manifestacão inicial e a prática atual; identificar e analisar os fatores que contribuíram para as transformacões somadas à prática cultural nos dias de hoje; reunir depoimentos, documentos, fotos, etc. que possam ser utilizados para caracterizar a Festa do Divino e avaliar o atual estágio das Festas do Divino Espírito Santo no Município de Osório.

Para isso, havia sido elaborada a seguinte hipótese: Em análise às Festas do Divino uma cultura acoriana que até hoje se desenvolve no município de Osório, percebe – se que essa manifestacão popular sofreu aculturacões. Sabe-se que, nas tranformacões sócio culturais na região ao longo dos anos, estão presentes nas influências de origem evolutivas e étnicas, contudo a Festa do Divino manteve-se viva na comunidade de Osório, através da igreja e de grupos de apoio da sociedade osoriense.

No primeiro capítulo analisei a vinda dos açorianos para o Brasil, razões e políticas adotadas pelos governantes portugueses para que acontecesse essa transmigração. Deparei-me com uma vasta bibliografia em relação à história a respeito das Festas do Divino. Já na parte que diz respeito à literatura, não foi encontrado nada; foi possível escrever algumas informações através das entrevistas.

Procurei sintetizar os dados de como vieram os casais açorianos e quais foram às atitudes e providências para sua adaptacão nas terras do Rio Grande do Sul. Utilizei fontes da história, buscando contribuições úteis para a caracterização das Festas do Divino no município.

Através de relatos bibliográficos, Percebi que a Cultura da Festa do Divino em Osório e Região é prática antiga que perpassa as várias transformações históricas que sofreram a comunidade e toda a região litorânea. A aceitação e a prática da tradição se fez sentir mesmo em culturas diferentes da cultura dominante açoriana, mostrando que mesmo tendo suas origens em outro continente este elemento sócio - religioso cultural chamado de Festa do Divino, suportou a transmigração e o contatos com outros povos de práticas e costumes diferentes. Constituiu-se um importante instrumento de caracterização e perpetuação dos valores do povo açoriano na cidade de Osório.






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TREVISAN, Lauro. Os outros puderam você também pode. Santa Maria: Livraria da Mente, 1993.



APÊNDICE B - Projeto Festa do Divino Espírito Santo
em Osório



FACULDADE CENECISTA DE OSÓRIO FACOS
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CENECISTA MARQUÊS DE HERVAL
NÚCLEO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO/ NEPE
PROJETO: FESTA DO DIVINO ESPIRÍTO SANTO EM OSÓRIO

Objetivo: Integrar FACOS/Marquês com a comunidade e sua cultura sócio, religiosa, popular local, através de eventos em conjunto com as entidades e artistas ligados ao meio.


PROGRAMA:
Exposição de Fotos sobre as Festas do Divino em Osório
Fotógrafa: Sirlei Amaral
Local:Recepção da FACOS
Dia: 11/04/06 Terça – feira
Horário: 7:30 às 22:30

Palestra:
Tema: O significado das Festas do Divino no Município de Osório
Palestrante: Irmã Agata Buss
Local: Auditório da FACOS
Dia:Depois da páscoa
Horário:

Apresentação do grupo “Foliões do Divino Espírito Santo”e vídeo com imagens das festas antigas.
Local:Recepção da FACOS
Dia:Primeira semana após a páscoa
Horário: Noite
Estamos em tratativa quanto ao dia e horário




ANEXO A - Histórico da Festa do Divino Espírito Santo


HISTÓRICO DA FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

A religiosidade foi um dos maiores legados que a cultura portuguesa deixou para o Brasil. Por todo o país, muitas formas de expressão religiosa denotam claramente a influência de nossos colonizadores. Uma dessas formas, que se destaca por estar presente em praticamente todos os recantos do território brasileiro é o culto ao Divino Espírito Santo, que devota a Terceira pessoa da Santíssima Trindade. O culto ao Divino Espírito Santo nasceu em 1296, na cidade de Alenquer, em Portugal. A então rainha Isabel de Aragão, chamada de Rainha Santa, prometeu instituir um dia de culto caso o Espírito Santo resolvesse as desavenças entre seu marido, dom Diniz, e seu filho. Vendo atendido seu pedido, passou a coroar um mendigo, que se tornava rei por um dia no ano. No Rio Grande do Sul, a tradição vêm desde a chegada dos primeiros açorianos, entre os anos de 1748 a 1756. Durante todo esse tempo, sofreu influência de outras culturas, incorporando novos elementos. Ainda assim, mantém muito da forma original. No município de Osório as Festas do Divino chegaram juntamente com os colonizadores açorianos no ano de 1773. Os tropeiros do Divino que fazem parte atualmente das festas só abrilhantam mais e mais esta cultura sócio, religiosa, e os foliões estão dando continuidade ao seu trabalho passando com fé paras as gerações atuais a tradição destas festas. O Divino Espirito Santo esta representado em Osório pelo império que foi reconstruindo, a replica do império nos reporta aos açores as nossas origens potuguesas . Os devotos do Divino são desde jovens estudantes até os mais idosos é esta devoção que faz com que a festa permaneça e atravesse gerações. Durante as festas em homenagem ao Divino, os devotos pagam promessas, fazem oferendas e rezam.